Merkel disponível para discutir propostas de Cameron

Primeiro-ministro britânico promete um referendo à permanência do Reino Unido na União Europeia (UE) se for reeleito em 2015.

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Martin Schulz foi um dos primeiros a reagir ao esperado discurso de Cameron JOHN THYS/AFP

A chanceler alemã, Angela Merkel, garantiu que está disponível para discutir as propostas do primeiro-ministro britânico para tornar a União Europeia mais flexível, mas lembrou que Londres também tem de estar disponível para fazer compromissos.

“A Alemanha, e eu pessoalmente, queremos o Reino Unido como uma parte importante e um membro activo da União Europeia”, fez questão de sublinhar Merkel quando, nesta manhã, foi questionada sobre o discurso de David Cameron, em que este se comprometeu a renegociar os termos da participação britânica na UE e, findo o processo, a organizar um referendo em que a alternativa à nova relação seria a saída da união.

Merkel, que com a crise do euro se tornou a voz mais audível no Conselho Europeu, assegurou que Berlim “está preparada para falar sobre os desejos britânicos”, mas lembrou que numa comunidade a 27 “outros países têm desejos diferentes e é preciso trabalhar para encontrar um compromisso justo”. “Vamos discutir intensamente com o Reino Unido sobre as suas ideias, mas há tempo para isso nos próximos meses”, acrescentou a chanceler, demonstrando mais abertura para ouvir as pretensões britânicas do que outros dirigentes europeus.

As primeiras reacções ao discurso de David Cameron foram do presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz e dos ministros dos Negócios Estrangeiros de França e Alemanha. Embora com nuances e em tons diferentes, todos recusaram a hipótese de uma Europa "à la carte".

“Precisamos de um Reino Unido com estatuto de membro pleno, que não fique ancorado no porto de Dover”, afirmou o presidente do Parlamento Europeu, aludindo a um dos portos que liga o Sul de Inglaterra a França e à Europa continental. “O Reino Unido pode ser parte da construção da Europa ao trabalhar com os seus parceiros.”

Schulz disse que a Europa não devia perder tempo em discussões de mudanças de tratados. "Devemos concentrarmo-nos em trazer de volta à Europa o crescimento e o emprego."

A Alemanha, através do ministro dos Negócios Estrangeiros Guido Westerwelle considerou que a Europa não representa "a soma dos interesses nacionais" mas "uma comunidade de destinos". E nesse sentido, disse, "a Alemanha quer que a União Europeia continue a ser um membro activo e construtivo da União Europeia". Para Europa, "escolher à la carte não é opção."

De França, Laurent Fabius também enquadrou a sua reacção nos ganhos que o Reino Unido pode trazer à Europa, mas foi mais longe: "Desejamos que os britânicos contribuam com elementos positivos para a Europa. Mas não se pode fazer uma Europa à la carte. Admitamos que a Europa é um clube de futebol: quando se adere, e quando se está dentro desse clube, não podemos dizer que vamos jogar rugby.”

Já o ministro da Economia francês Pierre Moscovici referiu-se a um país, a Grã-Bretanha, que "é extremamente útil". "O espírito europeu também é respeitar a diversidade, a Europa é a unidade na diversidade." E concluiu: "Defendo uma Europa em que uns possam avançar mais depressa do que outros."

Da Suécia que está fora do euro e que, tal como o Reino Unido, defende uma redução do orçamento de Bruxelas, também chegaram palavras em tom de aviso. O chefe da diplomacia sueca Carl Bildt advertiu Londres para uma possível perda de influência se saísse da União Europeia. A mensagem de Bildt chegou pelo Twitter e através dele lembrou que os europeus serão em breve apenas 7% da população mundial. Tal significa que só será possível promover os seus valores e proteger os seus interesses trabalhando juntos.

A ministra dos Assuntos Europeus da Suécia Birgitta Ohlsson reforçou a posição dizendo que o futuro do projecto europeu vive de uma "colaboração comprometida". E concluiu: "Quero uma União [Europeia] útil, não uma rede sem compromissos."

Actualizada com a reacção de Angela Merkel
 

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