Gary telefonou à mulher com uma carga de explosivos Semtex colada ao peito

Reféns ocidentais no complexo argelino de extracção de gás natural de In Amenas foram encorajados a telefonar para casa pelos islamistas que os raptaram.

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Uma televisão argelina transmitiu imagens de reféns que fugiram do complexo AL-JAZAIRIA 3 TV/AFP

As histórias que começam a ser conhecidas do complexo de extracção de gás natural de In Amenas, na Argélia, são de terror. Reféns contam terem tido explosivos colados ao pescoço ou ao peito, e terem sido incentivados pelos militantes do comando islamista a telefonarem às suas famílias para lhes comunicarem que estavam a ser raptados – e corriam risco iminente de serem mortos.

Gary Barlow, um britânico de 49 anos,contou ao Daily Mail que foi obrigado a sentar-se à sua secretária e a telefonar à sua mulher, Lorraine, com uma carga de explosivos Semtex colada ao peito. Ela ligou a seguir para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, a informar que o complexo In Amenas, a cerca de 1600 quilómetros de Argel, estava a ser atacado por terroristas, contou ao tablóide britânico um amigo da família. De Barlow, um dos 20 a 30 britânicos que lá estavam, não se sabe ainda nada.

Segundo Khaled, um engenheiro argelino da Sonantrach, a empresa nacional de hidrocarbonetos, que explora o complexo de In Amenas juntamente com a BP e a Statoil norueguesa, os atacantes visavam directamente os estrangeiros, os ocidentais, entre os cerca de 600 trabalhadores, e permitiam-lhes comunicar para casa. “Os salafistas deixaram-nos ficar com os telemóveis, para que pudéssemos ligar para as nossas famílias. Mas rapidamente se tornou impossível entrar em contacto fosse com quem fosse”, relatou o engenheiro à revista L’Express.

Os trabalhadores argelinos foram separados dos estrangeiros desde o início do ataque, colocados num local diferente, contou à televisão France 24 Brahim um técnico argelino que trabalha para a BP. Os sequestradores chamavam “irmãos” aos trabalhadores argelinos, contou um argelino que trabalhava no complexo, citado anonimamente pelo New York Times.

Os atacantes, que falavam árabe mas muitos com sotaques que não eram argelinos, talvez líbios e sírios, ataram logo as mãos aos estrangeiros. Alguns paquistaneses discutiram com os atacantes, dizendo que deviam ser libertados porque também eram muçulmanos, mas o interlocutor do Times de Nova Iorque, que acabou por ser libertado, não percebeu o que lhes aconteceu.  

A certa altura, um refém italiano foi alvejado nas costas, na presença de outros reféns, contou o argelino. Porquê, não se percebeu. O argelino também não ficou a saber se o italiano sobreviveu ou se está morto. Diz que terá havido várias execuções, mas que não as presenciou.

Quando as tropas argelinas chegaram, começou outra forma de terror e outra oportunidade. O engenheiro irlandês Stephen McGaul, de 36 anos, conseguiu fugir quando o veículo em que estava a ser transportado pelos raptores para outra zona do complexo foi atacado pelo exército argelino, relata o Irish Times. Também ele esteve com explosivos ao pescoço e com a boca tapada por adesivos. “O exército argelino bombardeou quatro dos cinco jipes [em que os reféns estavam a ser transportados] e os quatro ficaram destruídos”, contou o irmão de McGaul ao jornal irlandês. “Ele partiu do princípio que todos os outros tivessem sido mortos.”
 

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