Rajoy exige menos contenção e mais expansionismo aos países do norte do Euro

Primeiro-ministro espanhol diz que os países mais ricos têm responsabilidades a cumprir.

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Mariano Rajoy afirma que a população espanhola tem um cliché sobre a sua inacção Andrea Comas/Reuters

Mariano Rajoy, o primeiro-ministro espanhol, pede às principais economias da Zona Euro que assumam uma política económica mais expansionista, de forma a contrariar a recessão dos países do sul e periferia e atingir números positivos no crescimento da região. Numa entrevista ao Financial Times publicada nesta quarta-feira, o governante afirma que não se pode exigir à Espanha que tenha uma política expansionista de investimento no seu estado actual. Essa responsabilidade deve recair nos países que o conseguiriam fazer.

“Penso que neste momento, em que existe uma necessidade de crescimento, aqueles que são capazes de implementar políticas de crescimento o devem fazer”, afirmou o primeiro-ministro espanhol ao jornal britânico.

A posição de Rajoy parece confrontar-se com as recentes decisões económicas do Governo alemão e com os recentes resultados do desempenho económico das principais potências europeias, em particular a Alemanha.

Surgiram já notícias de que o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, iria antecipar por dois anos, para 2014, o objectivo de cortar na despesa do Estado alemão de forma a atingir o défice orçamental zero. A confirmar-se esta decisão, a Alemanha estaria a voltar as costas ao apelo de Rajoy.

Já no que toca ao desempenho económico alemão, o gabinete nacional de estatísticas lançou na terça-feira os resultados provisórios para o último trimestre de 2012, que mostram que a economia alemã teve uma contracção de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Este resultado terá em parte que ver com a decisão, desta quarta-feira, de o Governo cortar as previsões de crescimento para 2013 de 1% do PIB para 0,4%.   

Em todo o caso, a posição assumida por Mariano Rajoy ao Financial Times  vai ao encontro de uma mensagem que já havia sido transmitida por Christine Lagarde, a directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI). No final de Dezembro, Lagarde afirmou que a Alemanha seria capaz de avançar de forma mais lenta no caminho da consolidação orçamental do que os outros países da Zona Euro e que, nesse sentido, estaria nas mãos do Governo alemão minimizar “os efeitos negativos sobre o crescimento” que os cortes orçamentais nos países do Sul estão a trazer à região.

Em revista ao seu primeiro ano de mandato e questionado sobre a linha de aumento de impostos e corte de despesas pela qual o seu Governo conservador se guiou em 2011, Mariano Rajoy defendeu-se com a redução do défice orçamental do Estado. “É um cliché dizer que Rajoy não toma decisões”, afirmou o primeiro-ministro espanhol, referindo-se a si próprio e ao preconceito sobre os galegos (a sua região natal), que são vistos como pessoas de pouca acção.

“Desde que assumi o Governo, reduzi o défice orçamental numa situação em que estávamos em recessão. Insisti numa reforma estrutural e numa reforma do sector financeiro. Agora gostava de perguntar: Quantos não-galegos é que teriam tomado estas decisões?”

Mariano Rajoy mantém o seu optimismo face a 2013. Ao Financial Times, o líder espanhol reafirmou a posição do Governo, que aponta para 2013 como o ano do início da retoma económica e da viragem de tendência. Rajoy salienta, contudo, que só no próximo ano é que essa retoma económica será claramente visível.

Porém, as previsões do Governo espanhol entram em confronto com os números da Comissão Europeia, por exemplo, que estima que a economia espanhola sofra uma queda de 1,5% do PIB em 2013, o triplo dos 0,5% de contracção que são avançados pelo Executivo.

Não ao resgate, “pero…”
Também inalterada ficou a posição do primeiro-ministro sobre um resgate financeiro internacional. Rajoy admite que a economia italiana, dependente das eleições legislativas de Fevereiro, terá uma pesada influência no desempenho económico espanhol num futuro próximo. Este futuro, por sua vez, terá uma forte influência na decisão de pedir, ou não, um resgate internacional.

Assim, Rajoy mantém a posição do Governo: “A opção existe e seria absurdo rejeitá-la de uma vez por todas”. Porém, a possibilidade de um resgate só se coloca na eventualidade de uma “nova crise nos mercados”.

“Alguma gente pode dizer que eu não estava certo em pedir entrada na OMT [Outright Monetary Transactions, sigla dada ao mecanismo do BCE anunciado em Setembro]. Não fico transtornado com isso… Tomámos uma decisão que estava correcta para a Espanha”, afirmou.

As emissões de dívida espanhola têm conseguido ultrapassar os objectivos do Governo, aproveitando um período de folga na pressão dos investidores no mercado. Apesar de o executivo manter um calendário exigente de financiamento para este ano (segundo o El País, terá de leiloar 600 milhões de euros em dívida todos os dias), os últimos leilões têm sido bem-sucedidos, o que parece estar a afastar o cenário de novo tumulto nos mercados que pudesse levar Mariano Rajoy a repensar um resgate.

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