Remessas de emigrantes aumentaram 12,6%, a maior subida desde 1997

Só nos dez primeiros meses de 2012, os portugueses em Angola enviaram para Portugal mais 50% do que no ano inteiro de 2011.

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Fonte: Banco de Portugal Comparação entre 2011 e 2012 entre os dez países com mais remessas
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Fonte: Banco de Portugal Mapa dos dez países com mais remessas

De Janeiro a Outubro de 2012, os portugueses em Angola enviaram para Portugal mais 50% do montante enviado em todo o ano de 2011. Na Alemanha, o crescimento foi de 54%. É o reflexo de uma vaga de emigração? Haverá mais espaço para emigrar em 2013?

As remessas de emigrantes aumentaram 12,6% nos dez primeiros meses de 2012 face ao período homólogo de 2011, e esta é a maior subida desde pelo menos 1997. Segundo contas feitas a partir dos dados do Banco de Portugal – que, em relação a 2012, só tem números até Outubro (inclusive) –, as remessas passaram de pouco mais de 2000 milhões de euros para 2200 milhões de euros.

Analisando os dez primeiros meses do período entre 1996 e 2012, a maior subida tinha acontecido em 2000 (mais 10,8% do que em 1999), o que já faz de 2012 um ano recorde. Os dados de 1996 a 2012 – período disponibilizado pelo Banco de Portugal – mostram ainda que é geralmente no terceiro trimestre que mais remessas são transferidas para Portugal.

Queda de França
Emigrantes em países como Espanha, Angola, Alemanha ou Reino Unido enviaram mais dinheiro em dez meses de 2012 do que em todo o ano de 2011. Entre os países no topo, Angola foi dos que tiveram a maior subida: mais quase 50% em dez meses, quando comparado com todo o ano de 2011, subindo de cerca de 147 milhões para cerca de 219 milhões euros (não há dados discriminados por meses em relação a Angola).

Comparando o período homólogo de 2011 e 2012, o total de remessas enviadas da Alemanha subiu 54% (de 92 para 142 milhões de euros); da Espanha cresceu 46% (de mais de 72 para mais de 105 milhões de euros); e do Reino Unido cresceu 22,2% (de 88 para 107 milhões).

Países como a Holanda tiveram um crescimento muito mais alto, mas os valores monetários são bem mais baixos: os 75% a mais representam uma subida de 17,6 milhões para quase 32 milhões. A França, o país de onde mais se enviam remessas e com uma diferença enorme em relação aos outros – quase 750 milhões de euros nos dez primeiros meses de 2011 –, desceu 4,1%, confirmando uma tendência de ligeira queda desde pelo menos 2009. A Suíça é o segundo país do “topo”: 540 milhões de euros foram transferidos para Portugal nos primeiros dez meses de 2012.

Vaga de emigração? Para continuar?
O volume de remessas está, obviamente, associado ao número de emigrantes, mas as subidas em determinados países estarão ligadas aos novos destinos escolhidos pelos portugueses. Nos países onde houve um maior aumento, os dados mostram que há 100 mil portugueses em Angola, 84 mil no Reino Unido, 146 mil em Espanha, 92 mil na Alemanha – e foi para o Reino Unido que mais portugueses terão emigrado em 2011 (mais de 16 mil), de acordo com os dados do Observatório da Emigração, que não tem números de 2011 para países como Angola.

Ainda não há números sobre emigração para 2012, mas especialistas pensam que existiu um aumento dos quase 44 mil, que emigraram em 2011, segundo o Instituto Nacional de Estatística. Quantificar o aumento e qualificar o fenómeno não é fácil. Primeiro porque, como afirma João Peixoto, investigador do Observatório da Emigração, os dados disponíveis nem sempre são muito recentes e são difíceis de comparar, pois as estatísticas produzidas em Portugal e no estrangeiro obedecem a conceitos e metodologias diferentes. Depois, “os fluxos registados nem sempre correspondem ao volume total dos movimentos”.

O investigador dá o exemplo de Angola, em que os dados não discriminam quantos dos 100 mil registados oficialmente serão emigrantes de curta ou de longa duração – “não se pode tratar da mesma forma um emigrante ‘temporário’ e um ‘permanente’” – e exemplifica ainda com o Brasil, para onde há muitos portugueses que vão como turistas “e prolongam a sua residência de forma irregular”.
 
Para um especialista da OCDE em migração, Georges Lemaître, que apresentou recentemente um estudo sobre Portugal, não há uma definição de “vaga de emigração”. Calcula que, para se falar de emigração maciça em Portugal seria necessário ter números próximos das 100 mil saídas por ano, e durante pelo menos dez anos consecutivos – o que daria uma “perda” de 10% da população. “Depois é preciso perceber quanto tempo ficam os que saem, se têm filhos nos países para onde vão.”

Razões para sair
Apesar de admitir que o número de saídas de portugueses está a aumentar, João Peixoto, investigador português do Instituto Superior de Economia e Gestão, não quer fazer projecções concretas para 2013. Mas estima que a “tendência será sempre de aumento”.

Porém, é uma incógnita se serão saídas de longa ou curta duração, diz. “As migrações são um fenómeno que não depende apenas de um país. Em particular no caso das migrações económicas, a oferta e a procura de trabalho à escala internacional explicam muitos dos movimentos”, frisa. Ou seja, a emigração não depende apenas de Portugal, onde existem várias razões que incentivam a saída, como a alta taxa de desemprego e a descida dos salários – algo que afecta outros países europeus.

Por seu lado, Lemaître diz que, de acordo com os seus dados, foi justamente em 2007, antes da crise de 2008, que se registou um grande aumento da emigração (os seus números apontam para 60 mil saídas nesse ano). Lembra que as pessoas não saem do país imediatamente quando as crises começam: “Só no último ano e meio é que as pessoas começaram de facto a sair da Europa do Sul.”

Ou seja, Lemaître prevê que, enquanto a situação económica não melhorar, a tendência de saídas irá manter-se. Além disso, Portugal é dos países da OCDE onde há o maior número de pessoas sobrequalificadas para os cargos profissionais que ocupam, factor que pode impulsionar a emigração. E se já muitos partiram, muitos poderão seguir as passadas, porque “uma das coisas que acontecem quando se emigra e se tem boas experiências é que as pessoas começam a falar disso: os emigrantes são muito bons a passar informação”. “A questão é: por quanto tempo é que as pessoas ficam? Quanto tempo é que a tendência dura?”

Notícia corrigida às 11h40: no quinto parárafo a contar do fim, corrigiu-se a perda de população em dez anos de 1% para 10%.

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