Défice externo português aproxima-se de zero

Pela primeira vez, desde pelo menos 1999, Portugal conseguiu durante um trimestre não registar necessidades líquidas de financiamento face ao exterior.

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Exportações da empresa portuguesa para o mercado angolano já valem mais de dois milhões de euros Carla Carvalho Tomás

O défice externo português foi, durante os primeiros nove meses deste ano, de 0,7% do PIB, acentuando a tendência de queda que se regista desde o início da crise da dívida soberana em 2010.

De acordo com os dados divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), registou-se mesmo um excedente face ao exterior durante o terceiro trimestre deste ano, a primeira vez que tal acontece desde pelo menos 1999 (o primeiro ano para o qual o INE apresenta dados na informação hoje disponibilizada). O excedente trimestral foi de 1472 milhões de euros (3,5% do PIB).

Este valor tão positivo pode ser explicado por “oscilações irregulares” nos dados referentes a apenas três meses, mas é evidente, numa análise a períodos de tempo mais longos, a tendência de correcção dos défices da economia portuguesa face ao exterior.

Senão vejamos: o défice de 0,7% nos nove primeiros meses deste ano é comparável com um défice de 7,2% do PIB em igual período do ano anterior. E durante a primeira metade deste ano o défice registado era de 2,8%.

Se se usar como indicador o défice externo dos últimos 12 meses, no final de Setembro deste ano, o resultado era também de 0,7%, contra 2,1% em Junho, 4,5% em Março e 5,6% em Dezembro. A queda neste indicador tem sido consecutiva desde Junho de 2010, quando se encontrava em 10,1% do PIB.  

De acordo com o INE, a evolução do último trimestre “reflectiu essencialmente o comportamento do saldo externo de bens e serviços, tendo as importações diminuído 1,5%, enquanto as exportações aumentaram 0,9%".

A diminuição da necessidade líquida de financiamento da economia portuguesa é o resultado, em primeiro lugar, da forte contracção registada na procura interna durante os últimos dois anos, com as famílias a cortarem no consumo e as empresas no investimento. Tanto as famílias como as empresas limitaram fortemente o seu acesso ao crédito, ao mesmo tempo que os bancos deixaram de obter tanto financiamento no exterior. Durante este período, a administrações públicas também reduziram o seu défice (financiado maioritariamente no exterior), mas a um ritmo mais moderado que o sector privado.

As exportações contribuíram também positivamente para esta melhoria do saldo da economia portuguesa face ao exterior, mas parecem ainda limitadas pela difícil conjuntura internacional.
 
 
 

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