Inadiável mundo novo

Há momentos transformadores. Isto vem a propósito de uma conferência europeia sobre marketing social na qual tive a oportunidade (e a sorte!) de participar. Desde então dou por mim a pensar que, de facto, andamos a viver em mundos paralelos. E que, muitas vezes, o essencial é invisível para os olhos, como escreveu Saint-Exupéry.

Num tempo em que meio mundo anda a tentar legitimar a erosão do Estado Social, em que outro meio anda à procura de respostas em modelos esgotados, tudo isto com sabor a desgaste, descrédito e desânimo, uma pequena parte está já noutra fase.

Pelo menos, foi o que conclui após dois dias de interessantíssimas comunicações, debates e de apresentação de casos sobre inovação social. Académicos e profissionais tornaram visíveis exemplos de boas práticas de programas sociais, lançados pelo sector público, pelo privado ou pelo terceiro sector e aplicados em vários países europeus, Portugal incluído.

Muitas vezes, esses programas resultam de alianças entre estes sectores. Houve ainda tempo para partilha de ferramentas de marketing social úteis para a implementação e aperfeiçoamento de tais acções. Desde o combate à pobreza e à exclusão social, a programas de melhoria de hábitos alimentares, de prevenção do álcool ou de sensibilização para as questões ambientais, o tom é de inconformismo e de acção. Não há letargia, há vontade de transformação.

É, de facto, um mundo novo este que circula ainda em corredores paralelos. Um mundo à parte dos assuntos de primeira página, das troikas e das cotações de rating. Aqui, debatem-se programas sociais que envolvem novas parcerias entre três agentes muitos diferentes – sector público, sector privado e terceiro sector – com o objectivo comum de resolver as causas dos problemas. Promover maior bem-estar social, reduzir assimetrias, pensar a sustentabilidade ambiental, resolver carências básicas… Tudo isto em programas ancorados não na caridade e na filantropia mas no investimento social. Mais, com vista à mudança social.

Acredito que é o que está a acontecer: os vários agentes da sociedade arriscam em novas combinações e novos modelos de parcerias e ensaiam programas que já deram frutos. Como um laboratório. O microcrédito lançado por Muhamad Yunus; a energia solar como melhoria das condições humanas no campo de refugiados de Kukama, no Quénia; a bolsa de valores sociais que permite investirmos em causas com maior fiabilidade de concretização dos projectos – eis alguns dos muitos exemplos de inovação social. Ideias com brilho próprio.

Como apontou Diogo Vasconcelos, “a inovação nasce da diversidade, do ‘mix’ de diferentes competências e tipos de organizações. Gente das artes e do design, da tecnologia e do sector público; agências públicas, entidades sem fins lucrativos e empresas, pequenas, médias e grandes." Mudar paradigmas é extensível ao Estado, que pode encontrar no sector privado e no terceiro sector respostas para as mais relevantes questões do nosso tempo. Tudo passa por mudar mentalidades, combinar o conhecimento de várias áreas e estimular a criatividade.

Bem-vindos a um futuro que tem que continuar em 2013.

A autora é investigadora na Universidade do Minho e directora da b+ comunicação

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