Scala cria polémica ao começar temporada com Wagner em vez de Verdi

A estreia de nova temporada no Scala de Milão com uma ópera de Wagner está a criar polémica numa Itália a braços com medidas de austeridade que considera impostas pela Alemana

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A polícia de intervenção à porta do teatro Reuters
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O primeiro-ministro Mario Monti com a sua mulher Elsa Reuters
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O ministro italiano da Economia Corrado Passera e a sua mulher Reuters
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Lapo Elkann, herdeiro da Fiat, com a sua namorada Reuters

Quando Lohengrin, de Wagner, se estreou em Itália, Verdi assistiu incógnito entre o público presente. Levava consigo uma cópia das partituras. Nas suas margens, escreveu uma nota: “Louco.” Por sua vez Wagner, contemporâneo absoluto do ícone da ópera italiana e da própria Itália enquanto país (nasceram ambos em 1813), considerava a música de Verdi pouco mecânica e pouco sofisticada. Rivais em vida, símbolos nacionais dos seus países após a morte, são novamente causa de conflito.

Tudo porque a Ópera de Milão, La Scala, que inaugurou hoje a sua nova temporada, dedicada ao bicentenário dos dois gigantes, deu primazia a Lohengrin. Em ano de bicentenário de Verdi, em tempos de crise que muitos atribuem ao domínio alemão da política europeia, a decisão de abrir a temporada com um dos símbolos nacionais da Alemanha causou polémica.

Por esta altura, com Lohengrin a meio da sua apresentação – o início estava marcado para as 16h italianas, 15h em Portugal -, os milaneses no Teatro alla Scala ou nos vários locais, como as Galerias Vítor Emanuel, a dois passos do teatro, em que a inauguração da temporada está a ser transmitida em directo, bem como os telespectadores da RAI ou da Arte-ZDF, duas das estações televisivas que a transmitem, já saberão como está a ser a reacção à polémica.

Daniel Barenboim, o maestro israelo-argentino, especialista em Wagner, responsável pela escolha, era hoje citado pelo Guardian: “Que diferença faz ter um ou outro [Wagner ou Verdi] no início da temporada, quando quase todos os trabalhos de ambos serão apresentados?” Por sua vez, o director do Scala, Stéphane Lissner, explicou que no próximo ano serão apresentados oito produções de palco de Verdi, contra apenas cinco de Wagner, e que a abertura da próxima temporada será feita com La Traviata, “o que está cronologicamente correcto, porque Verdi nasceu em Outubro e Wagner em Maio”.

Explicações que não convenceram a imprensa, ou melhor, o Corriere della Sera, em cujas páginas se classificou a decisão do Scala como “uma bofetada na arte italiana, um golpe para o orgulho nacional em tempos de crise”. O anúncio de que o Presidente da República, Giorgio Napolitano, não marcaria presença como habitualmente, justificada com a necessidade de se manter em Roma a acompanhar a evolução da situação política do país, levou a ainda mais especulação. Napolitano, porém, classificou a polémica, citado pela AFP, como uma “futilidade”.

A estreia de Lohengrin no La Scala, em 1873, foi recebida com apupos e tumultos tais que Wagner, que iria conduzi-la, cedeu o seu lugar a um maestro italiano. Cerca de século e meio depois, como terminará deste regresso?
 
 
 
 

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