Presidente da RTP elogia Nuno Santos, mas atribui-lhe todas as culpas

Alberto da Ponte negou ter recebido instruções do Governo sobre o caso e recusou que haja “conspiração” contra ex-director. Deputados tentaram descredibilizar o director-geral de conteúdos, Luís Marinho.

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Alberto da Ponte, durante a audição na Comissão de Ética Miguel Manso

Se os deputados quiserem saber exactamente o que se passou na RTP nos dias “quentes” após a carga policial no Parlamento no dia 14 de Novembro (ou pelo menos a versão dos factos apurada pela administração), terão que ler o relatório de cerca de 20 páginas que o presidente do grupo público entregou nesta terça-feira na Comissão Parlamentar de Ética.

Na audição de duas horas, Alberto da Ponte deixou perguntas por responder sobre onde e com quem a PSP viu as imagens em bruto dos incidentes e mandou os deputados lerem o relatório do inquérito interno, argumentando que não o iria tornar público.

“É só ler, é só ler o relatório. Faça favor de o tornar público, eu não o vou tornar público. Se me pedir para ler o relatório aqui, eu leio-o aqui”, desafiou Alberto da Ponte, no final da audição, à deputada socialista Inês de Medeiros. Mas não tem dúvidas sobre o principal responsável. “Os dados demonstram que nos é permitido ter a certeza de que o director de Informação teve conhecimento, deu autorização [para a PSP entrar, ver as imagens e para que fossem gravadas] e fê-lo de forma inequívoca.”

Alberto da Ponte avisou no início do encontro que preferia que a audição fosse à porta fechada. O pedido foi mesmo feito à comissão, que o recusou. Usou então outra arma: mandou à comissão o relatório sobre o inquérito, mas sem os anexos (e que constituem as provas), proibiu que fossem feitas cópias e exigiu que a consulta fosse condicionada aos coordenadores ou vice-presidentes de cada grupo parlamentar na Comissão de Ética. Um nível de sigilo que não foi exigido, por exemplo, na maioria de documentos usados na comissão de inquérito ao negócio PT/TVI.

Alberto da Ponte salientou que este é “um caso interno da RTP. Porque se trata da violação de um dever de lealdade, de um processo estabelecido e uma falta de informação atempada dos factos”. Os deputados contrariaram-no e o socialista Manuel Seabra salientou que este “não é só um problema lá de casa ou da RTP”, mas “de todos, por se tratar de uma suposta violação de direitos fundamentais”.

“Tirando a protecção - legítima - de algumas pessoas que responderam no inquérito, não se percebe este enorme sigilo”, disse ao PÚBLICO a deputada Inês de Medeiros, que se questiona sobre o “valor jurídico” do documento e das conclusões. “A verificar-se que aquilo que o ex-director de Informação fez é assim tão grave, é preciso perceber as consequências judiciais”, considera a socialista.

Perante os deputados, Alberto da Ponte elogiou Nuno Santos, de quem disse que “fazia parte do futuro projecto da RTP”. “É algo que entristece: estava a fazer um bom trabalho. Tinha feito sugestões muito pertinentes ao nível da gestão. Teve uma participação activa no processo de posicionamento e estratégia da empresa”, contou. “Foram sempre ideias qualificadas e bem recebidas. A não haver este acontecimento, ter-se-ia mantido como director.”

O presidente recusou a existência de uma “limpeza ou purga” na RTP. Nuno Santos demitiu-se porque a falta de confiança era insustentável e a exoneração da restante direcção de Informação era “um dever” da administração, para poder refazer a equipa. Recusou a “teoria da conspiração”, negando ter tido qualquer “influência ou telefonema para agir de que maneira fosse”. Do filme sucinto que contou, os deputados da oposição anotaram que o director-geral de Conteúdos sai ilibado por só ter conhecido o caso no dia 19 - quando o assunto já era comentado desde o dia 15. Por isso, tentaram descredibilizar Luís Marinho, lembrando a opacidade do seu cargo e funções e duvidando de que não soubesse da polémica que grassava dentro da RTP.

O presidente garantiu que a administração só daria imagens à PSP com mandado judicial e elogiou a forma “independente” como o inquérito foi feito e admitiu que os serviços disseram a Santos que “não carecia de ser ouvido porque emitira a sua opinião de forma expressa no comunicado à redacção”. Mas, “a partir do momento em que disse que queria ser ouvido, isso foi feito, por escrito.”

Alberto da Ponte fez-se acompanhar pela administradora Luiana Nunes, que anotava as intervenções dos deputados e depois lhe passava. Este falou sempre de modo bastante institucional, e fez questão de dizer o nome RTP quase sempre por extenso.

Quanto às notícias sobre a privatização da RTP, Alberto da Ponte recusou fazer comentários e remeteu explicações para a tutela.
 
 

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