Doentes com esclerose múltipla protestam contra suspensão de medicamento

Hospital de São João, no Porto, substituiu medicamente por causa de litígio com laboratório.

Um grupo de doentes com esclerose múltipla manifestou-se hoje junto ao Hospital de S. João, Porto, contra a suspensão de alguns medicamentos para o tratamento daquela doença degenerativa.

Um grupo de doentes com esclerose múltipla manifestou-se hoje junto ao Hospital de S. João, Porto, contra a suspensão de alguns medicamentos para o tratamento daquela doença degenerativa.

O protesto foi organizado pelas três associações de portadores de esclerose múltipla existentes em Portugal, com o objectivo de reivindicar "o melhor tratamento disponível para os doentes".

Esta acção "deve-se ao facto de o Hospital de S. João não dispensar toda a medicação existente no mercado nacional aos doentes com esclerose múltipla, por uma querela com um laboratório que fornece ao hospital, neste caso, dois medicamentos", explicou Paulo Alexandre Pereira, porta-voz das associações de doentes.

"A substituição dos medicamentos traz preocupações a estes doentes, porque não se sabe se, no período de adaptação, vão ficar estáveis. Além disso, o medicamento que tomavam era de aplicação subcutânea, o que lhes permitia fazer o tratamento em casa e com o novo medicamento têm de se deslocar ao centro de saúde para levar uma injecção semanal", frisou.

O que está em causa, segundo este responsável, "não é uma questão económica. Segundo a lei dos compromissos, o laboratório em questão pôs uma injunção em tribunal ao hospital e o hospital decidiu que não entravam mais medicamentos daquela marca".

"É uma querela, ou se quiser, uma birra, porque o laboratório pediu que o hospital pagasse o que lhe devia", frisou.

Paulo Alexandre Pereira acrescentou que as três associações de doentes vão levar o protesto "até às últimas consequências". "Já mandámos queixas para o Parlamento Europeu e associações de doentes europeias. Se tivermos de fazer como fizeram os deficientes indignados, de pernoitar na porta da Assembleia da República, também o faremos".

Susana Vilarinho, uma das doentes presentes neste protesto, contou que lhe trocaram a medicação há cerca de 15 dias, mas admitiu que ainda não sentiu "grandes efeitos".

"Os doentes têm o direito a ter a mesma medicação que é fornecida nos outros hospitais. Porque é que o ministro da Saúde não tenta perceber qual é a querela que existe e resolve o problema entre o hospital e a farmacêutica. Nós temos o direito de ter acesso à medicação que nos foi receitada pelo nosso médico, porque se nos foi receitada era porque era a indicada", acrescentou.

Aníbal Silva, outro doente, também alinhou nas críticas: "Não faz sentido nenhum estar a cortar os medicamentos aos doentes, substituindo-o por um alternativo que nós nem sequer temos conhecimento se terá algum efeito ou não".

Em declarações aos jornalistas, a directora clínica do "S. João", Margarida Tavares, garantiu que "o princípio activo dos medicamentos é o mesmo e não há nenhuma evidência neste momento que permita afirmar que são diferentes".

"Percebemos a angústia e a preocupação dos doentes, eles são a razão da nossa existência. O nosso interesse é e sempre foi encontrar as melhores alternativas para os tratar, mas entendemos que esta decisão é absolutamente correcta do ponto de vista científico e clínico e, portanto, quando isso está assegurado, eles podem estar descansados, porque nós estamos".

O Hospital de S. João informou recentemente ter pedido à Inspecção-Geral das Actividades em Saúde uma auditoria aos procedimentos que adopta para tratar a esclerose múltipla.

 

 
 
 

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