Nascimento do Primeiro Filho em 2012: Um desafio maior!

Estamos em Outubro de 2012, José e Maria conversam enquanto arrumam e preparam o quarto para a chegada da primeira filha: a Matilde! Maria: “Achas que era o momento certo?”

 

José: “Para quê?”
Maria: “Para termos a Matilde...”
José: “Claro que acho! Mas não deixa de ser irónico termos adiado a vinda da Matilde para garantir uma vida melhor. Esperámos que tu acabasses o mestrado para termos as condições ideais e agora vai nascer em plena crise económica!”
Maria: “É um misto de sentimentos, não é? Vão ser tantas mudanças... E ainda mais com a porcaria desta crise que em vez de desaparecer teima em agravar...”
José: “Tem calma Maria. Como vês, nunca existe o momento certo! Mas agora por outro lado, com a tua mãe reformada e que se disponibilizou para ficar com a Matilde nos primeiros três anos também nos vai dar outra liberdade a vários níveis, inclusivé económico!”
Maria: “É verdade e se fosse há um ou dois anos atrás...”
José (Abraça-a): “Não tínhamos namorado tanto, nem tido tanto tempo para dedicar ao trabalho.” 
Maria (Sorri): “Consegues sempre ver o outro lado...”
José: “Também acho que tens razão quando dizes que será mais exigente porque também nós ainda nos estamos a adaptar a uma nova forma de viver com esta crise... Mas temos falado tanto sobre a nossa realidade, estamos tão felizes com o nascimento da Matilde que desejámos tanto e isso também nos vai dar mais alegria e energia para enfrentarmos os problemas que vierem. Além de que me sinto cada vez mais apaixonado por ti e já com alguns ciúmes da atenção que vou perder!”
Maria: “Nunca perderás o teu espaço dentro de mim, até porque preciso de ti para ser uma boa mãe e desejo que continuemos a ser os melhores amantes!”
José: “Anda cá...”
 
É muito bom ouvir a Maria e o José e reconhecer neles a capacidade para sentirem, pensarem e partilharem de forma realista o impacto, nas suas vidas, do nascimento do primeiro filho !
Como sabemos há a tendência na sociedade em geral para valorizar os aspectos positivos deste feliz acontecimento contribuindo para a desvalorização das dificuldades que lhe são  inerentes e que também existem! Não reconhecer ou “pôr debaixo do tapete” estas questões favorece a idealização e adia o confronto inevitável com os momentos em que “a poeira começa a transbordar do tapete” despertando sentimentos de incompreensão e estupefacção perante a realidade que estão a viver. 
O nascimento do primeiro filho representa sempre um momento de “crise” para o casal pelas profundas alterações que traz às suas vidas. É  um momento de mudança na vida do casal a vários níveis – nas rotinas diárias, no padrão de relação sexual e intimidade (especialmente, como acontece em muitos casais, se este padrão já tiver sido vítima de algum “adiamento” nos meses de gestação), na necessidade em assumir mais responsabilidades profissionais por motivos de ordem económica, e mais do que nunca neste ano de 2012, a crise económica é sentida como uma ameaça constante à estabilidade e sobrevivência das famílias.
Após o nascimento do bébé e durante um período mais ou menos longo (que irá depender das circunstâncias e características do próprio) é ele quem passa a ser o centro das atenções na vida da família, ao contrário da fase anterior em que era a mãe que estava no centro e quem vai agora precisar de mais dedicação e ajuda do marido pela exigência em adaptar-se ao seu novo papel; também o pai pode ter sentimentos de exclusão pela dedicação que a relação mãe-bébé exige; o tempo de exclusividade para o casal encontra-se inevitavelmente diminuído.
É um período em que se sente uma grande ambivalência. Por um lado os sentimentos de alegria e realização pelo nascimento de um filho desejado, por outro há um risco de afastamento real para o casal. Como se sabe a maioria dos divórcios ocorre após o nascimento dos filhos pelo que importa “olhar” este acontecimento com um grande sentido de responsabilidade e consciência da nova realidade.
A crise económica que vivemos pode, em muitas famílias, contribuir para aumentar os factores de risco nesta fase de fragilidade que representa o nascimento do primeiro filho. Há o aumento da pressão nos empregos, a perda de poder de compra, muitas vezes o desemprego que obriga as famílias a introduzir mudanças na organização da vida familiar e alterar hábitos de consumo e de vida para  se adaptarem à nova realidade económica.
Os momentos de crise podem ser grandes oportunidades para que no seio familiar se descubram novas capacidades e competências que lhes permitam enfrentar os problemas e os desafios que se colocam. São sempre fases que impulsionam ao desenvolvimento de sentimentos de tolerância, resistência, preserverança, solidariedade e união!
Este contexto de “crise familiar” e económica pode ajudar o casal a reinventar-se e adaptar-se alertando para a importância de desenvolverem “um novo circuito de cuidados mútuos”: a atenção ao outro e às suas necessidades, a importância de comunicarem sobre a forma como estão a sentir-se perante esta nova fase, a discussão das novas prioridades, a defesa de um espaço de intimidade e tempo para o casal (onde as famílias de origem ou os amigos próximos podem ser uma ajuda importante), o respeito pelo tempo de adaptação do outro às novas circunstâncias. 
A certeza de que esta é uma fase transitória em que o Tempo funciona como um verdadeiro aliado onde cada elemento do  casal irá novamente voltar a sentir a tranquilidade e estabilidade que deseja. Não cair na tentação de desejar uma  vida perfeita como nos contos de fada onde tudo corre bem e sem dificuldades e que só contribui para uma forma de viver de faz-de-conta! 
Olhar para as circunstâncias e para os problemas ajuda-nos na sua aceitação e reconhecimento contribuindo para desenvolvermos capacidades de mudança onde a criatividade e optimismo são ingredientes indispensáveis.
A comunicação verdadeira e o diálogo no casal é fundamental para que o caminho de construção das suas vidas seja aquele que realmente procuram e desejam. 
Esta é uma fase exigente mas muito compensadora do ponto de vista afectivo onde os novos afectos e vivências funcionam como força carburadora e sobretudo se não se perder de vista a maior das prioridades: Cuidar do Outro!
 

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