Furacão pode ter destruído anos de investigação médica nos EUA

Milhares de ratinhos mortos, células e tecidos danificados e investigações sobre cancro, doenças cardíacas e neurodegenerativas perdidas após inundações e falhas de energia na Universidade de Nova Iorque

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As autoridades estão agora a tentar limitar as consequências da contaminação das águas na saúde pública Allison Joyce/AFP

Anos de investigação científica sobre cancro e doenças cardíacas e neurodegenerativas estão em risco devido à passagem da supertempestade Sandy por Nova Iorque. Depois da operação de salvamento de mais de duas centenas de pacientes internados no Centro Médico Langone da Universidade de Nova Iorque, em Manhattan, os investigadores regressaram às instalações e depararam-se com "um cenário horrível": milhares de ratinhos de laboratório mortos, células e tecidos provavelmente perdidos para sempre e estudos que terão de recomeçar da estaca zero.

Na noite de segunda para terça-feira, a força do furacão Sandy deixou o Centro de Investigação Smilow, localizado no complexo do Centro Médico Langone, sem electricidade e sem a ajuda dos geradores de recurso, que falharam - Gary Cohn, presidente do banco de investimentos Goldman Sachs e administrador do hospital da Universidade de Nova Iorque, já admitiu que os responsáveis tinham conhecimento prévio de que os geradores poderiam falhar e que estão em curso obras no valor de três mil milhões de dólares com vista à modernização do sistema.
As equipas de salvamento conseguiram resgatar os 215 pacientes internados no centro médico, entre os quais 20 recém-nascidos, mas o corte de energia afectou os equipamentos usados para a conservação a baixas temperaturas de material biológico, com consequências "devastadoras", de acordo com Jacco van Rheenen, um médico holandês que trabalhou no Centro de Investigação de Smilow, o mais afectado pelos efeitos do Sandy. 

"Perdemos todo o nosso trabalho, todo o tempo e o dinheiro despendidos. Vamos ter de começar tudo de novo", disse à ABC News Michelle Krogsgaard, investigadora especialista em biologia do cancro na Universidade de Nova Iorque.

Entre o início da semana e quarta-feira, não foi possível entrar nos laboratórios de investigação sobre doenças cardíacas, neurodegenerativas e cancro, todos eles acessíveis apenas com o uso de cartões electrónicos. Michelle Krogsgaard teme o pior: "Podemos perder tudo o que fizemos desde que eu cheguei à Universidade de Nova Iorque, há seis anos."

Em comunicado, os responsáveis pelo Centro Médico Langone admitiram que "as tentativas para salvar os animais não tiveram sucesso" e mostraram-se "profundamente tristes com esta perda e com o impacto que ela tem sobre vários anos de trabalho muito importante realizado pelos investigadores".

Ouvido pelo site de ciência LiveScience, o médico holandês Jacco van Rheenen considera que as perdas no Centro de Investigação de Smilow vão ter consequências para além das portas da Universidade de Nova Iorque. "Alguns ratinhos são únicos, são desenvolvidos especificamente para determinadas investigações. Se os investigadores não enviaram espécimes para outros laboratórios, essas linhagens podem ter simplesmente desaparecido" - um processo que pode levar anos a desenvolver. "É mesmo devastador", reforçou o médico.

Ashley Seifert, investigador de regeneração de tecidos na Universidade da Florida em Gainesville, dá uma ideia do que pode representar uma perda semelhante à da Universidade de Nova Iorque, comparando o desaparecimento de uma linhagem à queima do único exemplar de um romance escrito à máquina durante um incêndio numa casa: "Se perdermos todos os ratinhos que usamos de um momento para o outro, perderemos anos de trabalho e teremos de começar tudo a partir do zero."

No rescaldo dos piores dias da passagem do Sandy, a vida começa lentamente a regressar à normalidade, mas a falta de combustível e de energia tem dado origem a enormes filas nas estações de serviço e já levaram à paragem de várias empresas de táxis. "Tivemos de cancelar a saída de muitos veículos porque não há combustível suficiente", disse à agência Reuters Joue Balulu, gerente de uma empresa de táxis em Brooklyn.

Do outro lado rio Hudson, em New Jersey, a atenção das autoridades centra-se agora nos riscos para a saúde pública, devido à contaminação das águas com pesticidas, tinta ou gasolina. O Departamento de Saúde do estado está particularmente preocupado com os potenciais riscos para as crianças e para os idosos.

O último balanço da passagem do Sandy pelos EUA aponta para mais de 90 vítimas mortais, 37 das quais em Nova Iorque. 

 

 

 

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