Sindicato desconhece norma que permite crédito a custo zero aos trabalhadores da CGD

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A prática não está previsto no Acordo de Empresa Foto: Gonçalo Português

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo Caixa Geral de Depósitos (CGD), João Lopes, assegurou ao PÚBLICO que está “chocado” com a declaração “inacreditável” da actual administração do grupo de classificar como “uma prática normal na instituição, à luz das suas normas internas, dar crédito aos trabalhadores a custo zero (sem spread)”. Se existe um despacho nesse sentido, ele “é imoral” e, assegura, “não o conheço”.

João Lopes diz que “tem fortes dúvidas, para não dizer certezas, de que esta seja uma prática geral no banco”, pelo que vai propor que o tema seja debatido, na segunda-feira, na reunião de direcção sindical, e quer ainda discuti-lo com José Matos, líder da CGD. Outro assunto que os sindicalistas querem debater é a eventual intenção do Governo de privatizar 40% do banco estatal.

O PÚBLICO noticia hoje que a CGD deu, em 2001, um financiamento de 800 mil euros a Nuno Bento, o director do Grupo de Prevenção e Segurança (GPS), metade a custo zero, o que não está previsto no Acordo de Empresa assinado com os sindicatos. Nuno Bento, e o departamento que dirige desde 2005, por indicação de Armando Vara, então gestor da CGD, está sob suspeita de fazer vigilâncias ilícitas aos seus trabalhadores, tendo sido constituído arguido em Agosto.

Ontem, inquirido por email pelo PÚBLICO, sobre o assunto, José Matos declarou que não comentava assuntos relacionados com clientes, ainda que trabalhadores. Hoje, já depois da notícia do PÚBLICO ter sido publicada, fonte oficial da Caixa disse ao Jornal de Negócios que a instituição garante “que não há qualquer excepção ou violação de regulamentos, não tendo por isso havido benefícios deste trabalhador”.

João Lopes manifestou-se surpreendido, pois, a ser verdade, “não tinha conhecimento da existência de um despacho a permitir que a CGD conceda empréstimos naquelas condições, à taxa Euribor e a spread zero”. E, se existe, “é porque está a ser aplicado e a privilegiar um pequeno número de pessoas”.

O sindicalista considera “inacreditável e imoral que a administração considere esta prática normal, e que diga aos jornais, que ela não configura qualquer protecção e que é legal”. “Fiquei completamente espantado quando li a posição” da gestão da CGD, que “é muito grave e uma irresponsabilidade, pois está a denegrir o bom nome do grupo, que sai disto muito chamuscado”.

“Como é que, ainda para mais num quadro de falta de crédito, é que os clientes da CGD, sejam eles particulares ou empresas, assim como a generalidade dos trabalhadores, que não têm este privilégio, e nem devem ter, olham para a explicação da gestão?” “Vão perguntar: como é que é possível que a CGD tenha este tipo de práticas, cobrar aos directores spread 0% à Taxa de Euribor?” “Mais nenhum banco tem estas práticas.” Conclui: “Que mais posso dizer? Que estou chocado!”.

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