RTP: “Um gestor não tem de aceitar todas as trapalhadas”

O ex-presidente da RTP Guilherme Costa disse hoje que um “gestor não tem de aceitar todas as trapalhadas”, ao explicar que a razão da sua demissão não foi apenas devido à questão da concessão da RTP a um privado.

O gestor falava na comissão parlamentar para a Ética, a Cidadania e a Comunicação, no âmbito de um requerimento do PS, apresentado na sequência do seu pedido de demissão da presidência da RTP, no final de Agosto.

A saída de Guilherme Costa aconteceu depois de o consultor do Governo António Borges ter anunciado numa entrevista que estava a ser estudada a concessão da RTP a um privado, tendo na altura a administração do grupo estatal de rádio e televisão manifestado a sua oposição ao modelo.

“Não acho que seja verdade que o projecto de concessão tenha sido apresentado como um projecto interessante. Não foi assim que foi apresentado”, disse Guilherme Costa, contrapondo as declarações de António Borges, que na altura considerou o modelo um “cenário atraente”.

Para Guilherme Costa, “o mal está feito”, criticando a forma como este modelo foi anunciado.

Apesar de admitir uma “simpatia pessoal” por António Borges, o antigo presidente da RTP considerou que “apresentar este projecto e dizer que o privado que vier até pode despedir” foi a “forma mais absurda” de ser apresentado o modelo.

“Eu não gosto do projecto, não conheço capacidade de fazer serviço público, nos moldes que eu entendo, através da concessão no privado”, considerando o modelo alternativo à privatização uma espécie de parceria público-privada (PPP).

A forma como este anúncio afectou “a capacidade de mobilização na empresa é irreparável”, considerou, sublinhando: “Acho que um gestor não tem de aceitar todas as trapalhadas”.

“Portanto, a razão da minha demissão não é necessariamente a concessão”, adiantou o gestor, para quem, quando se fixam objectivos, é preciso exigir “que esses não sejam sistematicamente pisados”.

Por isso, resolveu pedir a demissão “quando surgiu a hipótese de não ser aquilo que estava combinado”.

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