Reacções à entrevista do PM

Reacções à entrevista de Pedro Passos Coelho dada na noite desta quinta feira à RTP.

PSD destaca abertura para modelação da TSU e acusa PS de “deriva radical”

O líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, destacou nesta quinta-feira a “abertura do Governo” para aperfeiçoar medidas já anunciadas, nomeadamente a modelação da Taxa Social Única (TSU) de forma a “proteger” quem tem rendimentos mais baixos.

A “entrevista muito esclarecedora” do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, à RTP, demonstrou ainda um chefe de Governo “sereno”, apontou Luís Montenegro, em contraste com a atitude “irresponsável” e de “deriva radical” do líder do PS, António José Seguro, que anunciou o voto contra o Orçamento do Estado para 2013 e admitiu a apresentação de uma moção de censura.

Luís Montenegro destacou a “abertura do Governo”, manifestada por Passos Coelho, para poder aperfeiçoar algumas medidas e “aproximá-las de alguns objectivos, nomeadamente, em termos de justiça social”.

“O senhor primeiro-ministro teve ocasião de se referir à modelação que deve envolver a medida que diz respeito à Taxa Social Única no sentido de proteger aqueles que têm mais baixos rendimentos e também no sentido de que o benefício que é dado às empresas possa chegar à economia e possa chegar aos consumidores, nomeadamente, através da baixa de preços”, argumentou.

“Foi uma entrevista muito esclarecedora, de um primeiro-ministro convicto mas igualmente sereno, que contrasta muito com a atitude bem mais entusiasta, mas muito irresponsável por parte do líder do principal partido da oposição, que hoje mesmo anunciou ao país, antecipadamente, antes de conhecer a proposta de Orçamento do Estado, o respectivo voto contrário”, disse.

O líder da bancada do PSD disse lamentar que “o PS e o seu líder tenham cedido à demagogia e ao populismo mais fácil do momento, que é um momento difícil e grave, em que é preciso ter coragem de afirmar posições e convicções, e tenha preferido o caminho da irresponsabilidade”.

“É lamentável e nós apenas registamos esta deriva radical do PS, que se aproxima do discurso político do Bloco de Esquerda e do PCP”, acusou.

Para Luís Montenegro, Seguro “tem toda a legitimidade para discordar das políticas e das medidas do Governo, mas não tem nenhuma legitimidade para discordar dos objectivos que estão subjacentes a essas políticas, porque os objetivos das políticas e das medidas do Governo estão plasmados num contrato que o Estado português assinou com as entidades que nos estão a financiar”.

PS diz que Passos está em estado de negação

O PS considerou nesta quinta-feira que o primeiro-ministro está em “estado de negação” face à situação do país e revela impreparação, dizendo que na entrevista à RTP não deixou “uma única palavra” aos desempregados e reformados.

A posição foi transmitida pelo vice-presidente de bancada socialista Mota Andrade, em reacção à entrevista do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, à RTP.

“Assistimos à entrevista de um primeiro-ministro impreparado, sempre à defesa e sem soluções para o país, revelando isolamento e estado de negação em relação às dificuldades que os portugueses sentem. Ao longo da entrevista, não houve do primeiro-ministro uma única palavra de esperança para os reformados ou para os desempregados”, acusou Mota Andrade.

Segundo o dirigente da bancada socialista, Pedro Passos Coelho fez “um discurso vazio, sem qualquer nova solução que dê esperança aos portugueses”.

“Temos um primeiro-ministro impreparado. As medidas que este Governo tem tomado e as que agora anuncia não são a solução para o país, sendo antes um problema para o país. Se as medidas do Governo forem concretizadas, dentro de um ano Portugal estará seguramente em maiores dificuldades do que hoje”, sustentou.

Confrontado com as críticas que o primeiro-ministro fez ao secretário-geral do PS, António José Seguro, ao longo da entrevista, Mota Andrade contrapôs que “há limites” para aquilo que diz.

“O primeiro-ministro ainda em Agosto disse que 2013 já um ano de crescimento e agora diz exactamente o contrário”, respondeu.

PCP: Passos “assumiu com toda a clareza” política de “baixar salários para pagar a crise

O PCP considera que o primeiro-ministro assumiu nesta quinta-feira “com toda a clareza”, na entrevista à RTP, que o objectivo da política do Governo e do acordo da ajuda externa é baixar salários para “pagar a crise”.

“Para o PCP, há um elemento muitíssimo relevante nesta entrevista. É que o primeiro-ministro assume com toda a clareza que o objectivo deste programa [de ajustamento financeiro] é reduzir os custos do trabalho, reduzindo os salários a quem trabalha para pagar a crise que o capital criou”, disse o deputado comunista João Oliveira, numa declaração aos jornalistas no Parlamento após a entrevista do primeiro-ministro, hoje, à televisão pública.

João Oliveira acrescentou que “isto confirma que o primeiro-ministro está, de facto, empenhado num único objectivo, que é o de empobrecer os trabalhadores e agravar a exploração para resolver os problemas que o capital criou e cuja responsabilidade não quer assumir”.

A entrevista foi, por isso, considerou, “muito clara em relação às intenções do Governo” e “deve ser obrigatoriamente muito clara para os portugueses”.

“A tarefa que se coloca aos portugueses, particularmente aos que são atingidos por estas políticas do Governo, é derrotar este Governo, é derrotar este pacto de agressão [o acordo de ajuda externa] e encontrar uma política alternativa, patriótica e de esquerda como o PCP tem afirmado, para que possamos dar um outro rumo ao país, porque entregues a este tipo de políticas e a este tipo de gente, o país não tem futuro”, acrescentou.

Para o deputado do PCP, esta entrevista “confirmou” ainda “um primeiro-ministro enredado no seu próprio labirinto que fala de sucessos e bons resultados”, apesar da “verdadeira tragédia que há no país de há um ano a esta parte” e quando há “mais divida, mais défice, mais desemprego, menos poder de compra”.

“O primeiro-ministro fala em sucesso, arriscando até usar uma palavra que o ministro das Finanças ontem [quarta-feira] recusou utilizar. E no meio disto tudo não consegue justificar com um único elemento as medidas que anunciou na sexta-feira e que agora procurava defender”, disse.

BE: Passos está “fechado na sua obstinação” e “incapaz de dialogar com o país

O Bloco de Esquerda considera que o primeiro-ministro está “fechado na sua obstinação” e “incapaz” de “reconhecer os erros” e de “qualquer diálogo com o país”, qualificando a entrevista de Pedro Passos Coelho à RTP como “pior do mesmo”.

“É um primeiro-ministro fechado na sua obstinação, não reconhecendo qualquer erro, incapaz de tomar qualquer diálogo com o país”, disse o líder parlamentar do BE, Luís Fazenda, numa declaração aos jornalistas feita no Parlamento.

O dirigente do Bloco sublinhou que Passos Coelho, durante a entrevista de mais de uma hora que deu hoje à televisão pública, não “reconheceu nenhum erro” e insistiu em “não alterar nada em relação à ‘troika’, à política que Portugal tem seguido junto dos credores internacionais”. “E como tal, isto foi mais do mesmo e é pior do mesmo. É cada vez pior do mesmo”, sublinhou Luís Fazenda.

Para o líder parlamentar do BE, o primeiro-ministro devia ter reconhecido “o fracasso da receita da ‘troika’ [Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional]” e “o erro da alteração da Taxa Social Única”, por ser “uma transferência direta do trabalho para o capital” que é “imoral e irracional”.

Por outro lado, acrescentou, “o primeiro-ministro não explicou a derrapagem orçamental” e “inclusivamente ameaçou com outras medidas de austeridade para o futuro”. “O senhor primeiro-ministro, de facto, o que hoje conseguiu fazer foi um incentivo extraordinário às mobilizações sociais e às mobilizações populares, que se anunciam, de contestação a esta política do Governo e uma tentativa de que o povo português consiga que este Governo vá embora”, acrescentou.

Segundo Luís Fazenda, só com a substituição do executivo Portugal pode “ter a esperança de renegociar a divida”, de “rasgar” o acordo assinado com os credores internacionais e de “encontrar caminhos alternativos de desenvolvimento”.

Verdes: Passos Coelho “prometeu o inferno” e “vive no mundo da lua”

O Partido Ecologista Os Verdes considera que o primeiro-ministro “abriu a porta” a mais austeridade e “prometeu o inferno” aos portugueses na entrevista de hoje à RTP, acusando ainda Pedro Passos Coelho de “viver no mundo da lua”.

A deputada Heloísa Apolónia disse aos jornalistas no Parlamento que, no final da entrevista, Passos Coelho “abriu completamente a porta ao anúncio de mais medidas de austeridade”, acrescentando “que um primeiro-ministro que faz isto na situação calamitosa em que o país e encontra é um primeiro-ministro que oferece e promete o inferno”.

“Eu julgo que o primeiro-ministro não tem consciência da situação dramática em que o país se encontra, não pode. É um primeiro-ministro que vive, necessariamente, no mundo da lua”, afirmou.

Heloísa Apolónia acrescentou que a entrevista “preocupou muito” os Verdes também “pelo autoritarismo que o primeiro-ministro manifestou”, sublinhando que Passos Coelho afirmou “que foi escolhido para pensar pela sua cabeça”.

“Não, não, a maioria foi escolhida e daí saiu um primeiro-ministro justamente para atenuar uma situação dramática de austeridade em que o anterior Governo nos estava a afundar. E este Governo chega, apesar das promessas que fez, contrariou-as todas e afundou ainda mais o país e aumentou mais essa austeridade”, acrescentou.

A deputada ecologista considerou que Passos Coelho “não convenceu absolutamente ninguém” na entrevista e “embrulhou-se completamente em relação à mexida na Taxa Social Única”. “Ninguém percebe nada disto e não se pode compreender, porque é de tal maneira injusto que é incompreensível e não é explicável”, afirmou Heloísa Apolónia.

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