Marcar três golos num jogo em que o mais difícil foi não golear

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Ronaldo ficou em branco, mas assistiu Postiga para o 2-0 Foto: Miguel Vidal/Reuters

Marcar três golos é sempre um resultado interessante, mesmo quando do outro lado esteve uma selecção débil como é o Azerbaijão. Mas o olhar tem de ser menos benévolo se for levada em conta a exibição apenas sofrível de Portugal, o número interminável de remates e oportunidades flagrantíssimas (para além de um penálti não assinalado) desperdiçados, as cinco bolas nos ferros e os 22 cantos a favor (contra apenas um do adversário).

Pouco ou nada justifica que Portugal só tenha marcado o primeiro golo já com uma hora de jogo e os restantes nos cinco minutos finais. A não ser a histórica má relação com as balizas adversárias.

Portugal arranca a corrida para o Brasil com duas vitórias nos dois primeiros jogos, o que só acontece pela quarta vez em 20 anos de apuramentos de Mundiais e Europeus. Mas a eficácia finalizadora tem de ser melhorada em muito no próximo confronto, na Rússia, frente ao único verdadeiro opositor que sorteio ditou neste grupo.

Paulo Bento repetiu, como era previsível, a equipa que defrontou o Luxemburgo, mas o Azerbaijão mudou quatro peças relativamente ao empate com Israel. As mudanças efectuadas pelo alemão Berti Vogts visaram tornar a selecção azeri ainda mais de tracção atrás, num 4x4x1x1 em que o avançado Ozkara, uma das novidades no “onze”, via quase sempre o jogo de longe.

Nada que não fosse expectável e que não serve para justificar a entrada em falso de Portugal. Pouco a pouco, Portugal lá acabou por estabilizar, passando a jogar com triangulações simples mas rápidas, sempre em progressão. E os lances de perigo sucederam-se. A primeira ameaça séria resultou de um pontapé de meia distância de Raul Meireles, bem defendido por Agayev.

O guarda-redes azeri foi muito discutido em resultado do “frango” que cometeu frente a Israel, mas nesta terça-feira redimiu-se com um conjunto de belísimas defesas durante a primeira parte. Anulou um remate de João Pereira (após boa triangulação com Nani) e esteve espectacular a defender, logo depois, um pontapé de João Moutinho, o único português que atingiu sempre uma bitola alta. Pelo meio houve ainda, aos 18’, houve ainda um remate ao poste de Postiga, ele que deve ser recordista europeu neste tipo de situações: alguns minutos mais tarde, a bola rematada por Moutinho tabelou no ponta de lança português e esbarrou na trave e, pouco antes do intervalo, Postiga ainda voltou a acertar no ferro, após uma magnífica jogada em que tirou primeiro dois adversários da frente.

Com tantas facilidades, o golo de Portugal parecia iminente e deve ter sido isso também que passou pela cabeça dos jogadores portugueses, que de tão sôfregos que estavam, passaram a errar até os passes mais fáceis. Paulo Bento bem gesticulava a pedir calma, como a querer dizer que depressa e bem há pouco quem.

A segunda parte começou com outra bola ao poste do Azerbaijão, mas deste vez o remate foi de Ronaldo, a quem as coisas teimavam em não sair bem, apesar do empenho. O craque do Real Mundial tentou o golo por mais quatro vezes nos oito minutos seguintes, o primeiro foi defendido por Agayev, o segundo saiu às malhas laterais, o terceiro (de cabeça) fora do alvo e o quarto demasiado alto. Há dias assim...

O tempo corria a fazor dos azeris e Paulo Bento decidiu mudar. Fez a substituição da ordem: saiu Miguel Veloso e entrou Varela. Raul Meireles recuou para a posição seis (com o apoio próximo de Moutinho) e Nani derivou para o meio, asumindo o papel de ‘dez’. Ronaldo também se posicionou mais próximo de Postiga. Na jogada imediata surgiu o golo, com Varela a surgir na direita a recarregar e a marcar na primeira vez que tocou na bola. Não houve sequer tempo para avaliar da bondade das mudanças.

O jogo prosseguiu com a quinta bola nos ferros, desta feita rematada por Fábio Coentrão, após uma assistência de Ronaldo. A partir daí prosseguiu o desperdício e Paulo Bento entendeu que era melhor voltar à primeira forma, trocando o trapalhão Nani por Rúben Amorim, um dos seis jogadores bracarenses que estavam no banco de suplentes. A verdade é que Portugal ainda foi a tempo de marcar mais dois golos. Segue-se o jogo na Rússia (12 de Outubro), onde não será admissível tanto desperdício.

A FIGURA: Hélder Postiga

Postiga marcou o segundo golo de Portugal e somou o seu 22º tento. Passou assim a ser a o oitavo melhor marcador da história da selecção, o que não joga bem com as críticas ao seu rendimento e, mais do que isso, parece desmentir quem insiste em referir que Portugal está mal servido de goleadores. Mas o ponta de lança podia ter feito muito melhor. Enviou quatro bolas aos ferros (se contarmos com o desvio no remate de Moutinho), situções que se repetem com uma frequência rara e estranha na sua carreira.


POSITIVOJoão Moutinho

Foi sempre o português com rendimento mais uniforme e elevado. Dos seus pés saíram verdadeiras filigranas, quase sempre mal aproveitadas pelos colegas. Recuperou bolas, fez lançamentos preciosos e até rematou. Encheu o campo.


NEGATIVODesperdício de Portugal

Portugal podia e devia ter construído um resultado histórico. Depois da vitória mínima sobre o Luxemburgo, os três golos desta terça-feira souberam a pouco e podem ter consequências negativas num eventual desempate por "goal average". Tanto desperdício não tem perdão.


Ficha de jogo

Portugal 3Azerbaijão 0

Jogo no Estádio Municipal de Braga.Assistência: 29.971 espectadores.

Portugal

Rui Patrício, João Pereira, Pepe, Bruno Alves, Fábio Coentrão, Miguel Veloso (Silvestre Varela, 63), Raul Meireles, João Moutinho, Nani (Rúben Amorim, 77), Cristiano Ronaldo e Hélder Postiga (Éder, 87). Treinador: Paulo Bento.

Azerbaijão

Kamran Agayev, Elnur Allahverdiyev, Volodimir Levin, Rashad Sadigov, Maksim Medvedev, Rahid Amirguliyev, Mahir Shukurov, Ruslan Abishov, Ali Gokdemir (Aleksandr Chertoganov, 89), Jihan Ozkara (Branimir Subasic, 72), Javid Huseynov (Afran Ismailov, 58). Treinador: Berti Vogts.

Árbitro

Szymon Marciniak (Polónia).

Amarelos

Kamran Agayev (45+1), Cristiano Ronaldo (90+3).

Golos

1-0, Silvestre Varela, 63 minutos.


2-0, Hélder Postiga, 85.


3-0, Bruno Alves, 88.


Notícia actualizada às 23h03
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