Bancos centrais deviam olhar para o crescimento e não para a inflação, diz Nobel da Economia

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Foto: Alex Grimm/Reuters (arquivo)

Os bancos centrais deviam ter por meta o crescimento nominal das economias e não a inflação, disse Roger Myerson, vencedor do Nobel da Economia de 2007, em entrevista à Lusa.

“Creio que toda a gente no mundo da economia compreende hoje em dia que a política monetária tem de seguir uma regra previsível. A regra dominante hoje em dia é ter por objectivo uma inflação à volta de 2%, manter a estabilidade de preços”, afirmou Myerson, à margem de uma conferência sobre desenvolvimento económico em África na Universidade Nova de Lisboa.

Em vez da estabilidade de preços, Myerson defende que os bancos centrais – incluindo o Banco Central Europeu (BCE) – devem guiar-se por um objectivo diferente.

“O que eu proponho é que os bancos centrais tenham uma meta de 5% para o crescimento nominal”, disse o economista norte-americano, professor na Universidade de Chicago.

“Uma meta para o crescimento nominal daria ao banco central a capacidade de ‘imprimir dinheiro’ suficiente” para sustentar a dívida dos países em dificuldades.

Inflação subiria para perto de 7%

“Em vez de ter uma inflação à volta de 3%, teríamos uma subida dos preços de 7% nos próximos anos”, prossegue Myerson, considerando que os benefícios de um crescimento mais robusto iriam superar os danos causados pela inflação.

Esta ideia vai contudo contra a missão do BCE, que é explicitamente manter a estabilidade dos preços e manter a inflação próxima dos 2% anuais. O aumento da inflação é anátema particularmente para a Alemanha.

A dedicação dos líderes políticos alemães à estabilidade dos preços é normalmente vista como reflexo da hiperinflação no tempo da República de Weimar, nos anos 1920. Mas Myerson, que estudou a história económica alemã, discorda: “Houve hiperinflação nos anos 1920, mas entre 1929 e 1931 houve deflação, e foi isso que provocou o pior da Grande Depressão.”

Para Myerson, o actual “empenho político alemão na estabilidade dos preços” está pura e simplesmente “errado”. “Se a Alemanha e Portugal pertencem à mesma zona monetária, e se um está em depressão e o outro não, talvez seja preciso ter alguma inflação para ajudar o país que tem muito desemprego”, considera.

O economista americano louva a decisão recente do BCE de retomar as compras de dívida pública de países da zona euro. “É um passo na decisão certa”, afirma Myerson. “Mas claro, o que acontece ao dinheiro [que o BCE vai injectar] é uma questão política importante”.

Apesar da crise financeira, Myerson continua a ser “optimista” quanto ao futuro da Europa, e não considera que a união monetária esteja condenada ao fracasso: “O problema não está na estrutura da zona euro.”

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