Ensino Superior com a menor procura desde 2006

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Redução de novos alunos no ensino superior “não surpreende” o presidente da Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior, Meira Soares Foto: Ricardo Castelo/nFACTOS

Número de estudantes colocados na primeira fase do concurso nacional de acesso acentua tendência de quebra registada no ano passado. Maioria dos cursos com médias de acesso mais baixas.

O número de estudantes colocados na primeira fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior voltou a descer. Depois de no ano passado se ter registado a primeira diminuição em seis anos, este ano entram nas universidades e institutos politécnicos 40.415 novos estudantes, o valor mais baixo desde 2006. Os maus resultados nos exames nacionais do 12.º ano ajudam a explicar o fenómeno.

A redução do número de colocados era expectável pelo menos desde o mês passado, quando o Ministério da Educação e Ciência (MEC) divulgou os números das candidaturas na primeira fase de acesso. Foram 45.078 os alunos que se apresentaram ao concurso, o que era já o número mais baixo registado nos últimos cinco anos. De resto, os dados agora conhecidos sugerem uma relação entre a diminuição de novos alunos no superior e o menor número de candidatos: houve menos 1821 estudantes na primeira fase e há uma redução de 1828 colocados.

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A redução de novos alunos no ensino superior “não surpreende” o presidente da Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior, Meira Soares. “O número de alunos em Portugal está a diminuir e este resultado já se previa”, sublinha. Para este responsável, os maus resultados verificados nos exames nacionais do ensino superior podem ajudar a explicar o fenómeno, a par com alguma diminuição de vagas em cursos que absorviam muitos alunos.

Meira Soares entende também que os efeitos da crise no acesso ao ensino superior ainda não são muito visíveis, porque os alunos “preferem arriscar a entrada nas universidades”, mesmo que depois percebam que não há condições para prosseguir e “acabem por desistir”, antecipa. Porém, há uma área de estudos habitualmente muito procurada e que este ano surge entre aquelas que têm mais vagas sobrantes na primeira fase: Engenharia Civil.

Para o presidente da Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior, os jovens perceberam que, com a crise na construção, haverá menos possibilidades de emprego no sector, e a procura reduziu-se. De resto, entre os dez cursos com mais vagas por ocupar, há cinco de Engenharia Civil: Politécnico de Lisboa (139) Universidade de Coimbra (94), Universidade Nova de Lisboa (79), Instituto Politécnico do Porto (71) e Universidade da Beira, que não colocou nenhum aluno na primeira fase.

Tal como aconteceu nos últimos dois anos, a segunda fase do concurso poderá ajudar a contornar a redução de novos alunos. A afluência à 2.ª fase dos exames nacionais foi maior do que se estava à espera, pelo que é provável um acréscimo de candidatos no novo período de acesso ao concurso nacional, que começa amanhã e se prolonga até 21 de Setembro. Os resultados serão conhecidos a 27 do mesmo mês.

Mesmo assim, 90% dos candidatos ficaram colocados na primeira fase, menos um ponto percentual face ao ano anterior. Os números mostram uma maior dificuldade dos alunos em entrarem nos cursos que estavam no topo das suas preferências. Houve 54% de colocados na primeira opção, um valor que é quatro pontos percentuais inferior ao registado há um ano. Ainda assim, 87% dos estudantes conseguem colocação nas três primeiras licenciaturas escolhidas no boletim de candidatura, um valor igual ao do ano anterior.

A lista dos cursos com nota de entrada mais alta volta a ser dominada por Medicina, contando apenas com três “intrusos” no top 10 (Arquitectura da Universidade do Porto, Bioengenharia, da mesma instituição, e Medicina Dentária da Universidade de Coimbra). Porém, as notas do último aluno a entrar em cada licenciatura sofreram uma redução quase generalizada, ainda que em valores ligeiros.

Os dois cursos de Medicina da Universidade do Porto (UP), na Faculdade de Medicina e Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar continuam a ser os que têm a nota de acesso mais alta, ambos 18,35, o que representa uma redução de 0,28 e 0,2 valores, respectivamente. O terceiro curso com acesso mais difícil é o de Medicina da Universidade do Minho, com 18,25 de média de entrada do último candidato. Entre os dez cursos com nota mais alta, há três (Medicina da Universidade Nova de Lisboa, Medicina Dentária da Universidade de Coimbra e Medicina da Universidade da Beira Interior) com média inferior a 18 valores, quando no ano passado havia apenas um curso em que isso acontecia, o de arquitectura da UP.

A universidade portuense volta a ser a instituição que colocou mais candidatos na primeira fase (4103), preenchendo 99% das vagas disponíveis. Seguem-se a Técnica (3552 colocados, que ocupam 95% dos lugares), a Clássica (3470 novos alunos) e Coimbra (2963). No concurso de 2012 volta a haver 28 cursos em que a média de entrada do último colocado é negativa.

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