Os homens de fibra e sentimento sobem hoje à serra da Estrela

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O holandês Kai Reus foi o vencedor de uma etapa muito acidentada Foto: Fernando Correia

Os ciclistas são desportistas de fibra. Gente simples, cara queimada, pernas secas de tanto esforço e morenas de tanto sol. Acordam cedo, comem bifes e massa ao pequeno-almoço. Competem nas horas de maior calor e sofrem em cima da bicicleta, percorrendo quilómetros atrás de quilómetros, especialmente nas etapas duras, como a que hoje enfrentam os que ainda resistem na Volta a Portugal em bicicleta de 2012. Vão sair da Guarda e subir da Covilhã às Penhas da Saúde. Voltam a descer e sobem às Penhas Douradas. Descem outra vez para ganhar fôlego e hão-de trepar de Seia à Torre, o ponto mais alto de Portugal continental (1993 metros).

São 154,9km decisivos para as contas da Volta a Portugal em bicicleta. É a hora de ver se Hugo Sabido (LA-Antarte), o actual camisola amarela, é realmente candidato e de confirmar se David Blanco (Efapel-Glassdrive) é mesmo favorito a ganhar a Volta pela quinta vez, batendo o recorde que partilha com Marco Chagas.

A subida à Torre é no papel o momento de maior sofrimento para os ciclistas que estão na 74.ª edição da principal prova de ciclismo em Portugal. Mas nem só de fibra são feitos estes homens. O sentimento é outra das suas características, talvez por fazerem parte de uma modalidade em que o sentido colectivo é forte como em poucas.

David Blanco costuma andar com um amuleto que lhe foi oferecido pela namorada. É a "protecção" do galego, um objecto de superstição que deveria permanecer escondido e anónimo. Mas, ontem, uma das primeiras coisas que o ciclista fez assim que cortou a meta no Sabugal (onde a sétima etapa foi ganha pelo holandês Kai Reus, um dos fugitivos do dia) foi entregar esse amuleto a Luís Constantino, presidente da equipa de Tavira, para que o desse a Ricardo Mestre, o amigo e rival que voltou a cair e foi parar ao hospital.

Depois de três quedas em três etapas antes do dia de descanso, o vencedor da Volta 2011 não resistiu à quarta queda, a mais grave de todas, já que caiu no pátio de uma casa, junto a uma curva. "Ainda tenho os berros do Ricardo na cabeça", disse Blanco, citado pela Lusa, contando que também esteve perto de cair. "Faltaram-me dois centímetros, travei e a bicicleta guinou, foi a minha sorte", disse o espanhol, acrescentando que a queda de Mestre foi provocada por um saco de plástico que voou na direcção do pelotão.

O ciclista português acabou por não sofrer qualquer fractura, mas perdeu todas as hipóteses de defender o título na serra da Estrela. Edgar Pinto (LA-Antarte) fracturou uma clavícula e desistiu, assim como os espanhóis Garikoitz Bravo (Caja Rural) e Jesus Del Pino (Caja Rural).

As quedas são, para Vidal Fitas, a prova "da fibra de que os ciclistas são feitos". "Quando um ciclista cai, a sua primeira preocupação é ir buscar a bicicleta e seguir viagem", disse um emocionado director desportivo da Carmim-Prio. E hoje a viagem é subir ao ponto mais alto da serra.

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