Banco público de células do cordão umbilical está em risco

Foto
Dos dois milhões de euros previstos para o banco de células estaminais, apenas foram entregues 500 mil Fernando Veludo/NFACTOS

Ex-secretário de Estado da Saúde Manuel Pizarro defende que Lusocord é "um serviço indispensável para o país".

Criado há cerca de três anos, o Banco Público de Sangue do Cordão Umbilical (Lusocord) continua sem quadro de pessoal e sem as verbas necessárias para assegurar a totalidade das funções para as quais foi projectado. Se a situação não for alterada, este banco que assegura a criopreservação de células estaminais usadas no tratamento de muitas doenças do foro hematológico poderá mesmo ter de encerrar, avisa o ex-secretário de Estado da Saúde e deputado do PS, Manuel Pizarro, que hoje visita o Centro de Histocompatibilidade do Porto, onde o Lusocord está instalado, para se inteirar da situação e lançar um alerta público.

"É lamentável que a actividade do banco esteja seriamente limitada por não ter o financiamento necessário e por não ter autonomia para recrutar os técnicos de que precisa. Estamos há mais de um ano a aguardar que o Governo tome decisões", critica Manuel Pizarro, que lembra que, dos dois milhões de euros previstos no Orçamento do Estado de 2011 para o Lusocord, apenas foram até agora disponibilizados 500 mil euros. O banco público é "um serviço indispensável para o país, porque o sangue criopreservado pode ser utilizado no futuro por quem necessitar de uma transplantação, ao contrário do que acontece com os bancos privados, onde o material fica ao dispor apenas das próprias famílias", sublinha Manuel Pizarro.

Mais optimista, a directora do Lusocord, Helena Alves, não acredita que o Governo deixe encerrar o banco público. "[Isso] seria criminoso", defende, notando que, das 25 mil amostras colhidas desde a sua criação, há mais de oito mil criopreservadas. Mas não esconde a sua preocupação com a situação actual do Lusocord. "Temos estado a aguentar, a apagar fogos e a inventar soluções", diz.

O problema é que o Centro de Histocompatibilidade do Norte, de acordo com a nova lei orgânica do Ministério da Saúde, passou para o Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) e o processo de fusão ainda não está concluído. E o banco público foi apanhado "no meio deste turbilhão".

Por isso é que o mapa de pessoal (inicialmente estava prevista a contratação de 12 funcionários para o Lusocord) ainda não saiu, o que obrigou a instituição a recorrer a contratos temporários. Mas até esses terminaram em Janeiro e desde então a solução tem sido recorrer a técnicos que trabalham à hora. Ainda assim, garante Helena Alves, o trabalho que é "obrigatório fazer de imediato está a ser feito", nomeadamente as colheitas de sangue do cordão umbilical, que oscilam entre 30 a 50 por dia.

O que tem sido adiado é algum trabalho que pode esperar, como a organização dos processos e várias análises, admite. Devido aos contrangimentos, até agora apenas foi possível tratar um pouco mais de metade das amostras recolhidas. Mas quando tudo estiver a funcionar a 100%, a directora acredita que o Lusocord se pagará "a si próprio", uma vez que as amostras utilizadas são pagas pelos hospitais.

Sugerir correcção
Comentar