B Fachada contrariou a chuva na noite de aquecimento de Paredes de Coura

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Radar dos festivaleiros estará apontado para o Norte do país Foto: Paulo Pimenta

E às 21h30 a chuva caiu, primeiro na forma de tímidas gotas, depois, convicta, sem freios. Caiu e não mais largou a noite inaugural de Paredes de Coura, como que a lembrar que também ela é uma espécie de tradição na história do festival, cuja 20.ª edição arrancou na segunda-feira.

Paredes de Coura começou com serenidade. Junto ao Rio Tabuão, poucas dezenas de pessoas esperavam que a tarde se tornasse noite enquanto jogavam às cartas, improvisavam torneios de equilibrismo numa espécie de corda presa a duas árvores, baloiçavam em redes de descanso ou escreviam a giz, numa caravana patrocinada pela EDP, dizeres como “Vai estudar, Relvas” ou “Alguém pague a minha conta da luz”.

Na vila, os cafés e restaurantes pareciam esperar que mais gente chegasse – o cenário não era muito diferente de um dia de Verão normal de Paredes de Coura. As roulottes de comes e bebes do recinto e dos arredores também não faziam grande negócio.

Foi uma noite em modo de aquecimento, com um só palco, o Vodafone FM, metido numa tenda gigante – esta terça-feira, também concentrada no segundo palco, o aquecimento é mais a sério, com Stephen Malkmus & The Jicks (com os Pavement, Malkmus garantiu lugar na história do rock), o rock sem tretas dos Japandroids, as canções bizarras dos tUnE-yArDs, a trip de Sun Araw, os hinos percussivos dos portugueses Paus e os musicalmente poliglotas Friends, nova coqueluche de Brooklyn.

Numa noite totalmente preenchida por novos nomes da música portuguesa, coube a B Fachada a honra de cabeça-de-cartaz de segunda-feira. Confirma-se que está numa liga diferente da dos companheiros da nova música portuguesa: em poucos anos desenhou uma das mais fascinantes discografias nascidas no burgo, cheia de ziguezagues e reviravoltas estéticas e conceptuais, mas 100% consistente com a personagem Fachada.

O novíssimo “Criôlo” foi o prato principal e gerou os momentos mais felizes, como as eufóricas “Tendinite” (convite despudorado à dança gingona) e “Afro-Xula”. Pilham no afro-pop mais piroso, mas safam-se com um sorriso. Sem medo de nada, B Fachada repescou o balanço herege de “Deus, Pátria e Família” e cantou “Portugal está para acabar, é deixar o cabrão morrer”.

“Kit de Prestidigitação”, encore não pedido, como salientou Fachada, fechou o concerto e teve direito a cantoria por parte de meia dúzia de fiéis, uma minoria numa tenda que parecia estar sobretudo ocupada por gente com medo da chuva.

Antes, os League mostraram a sua música veraneante, em contraste directo com o clima, mas foram os Salto que conquistaram o povo, graças a uma clara pontaria pop. As vozes ainda não convencem totalmente, mas tal não impediu muita gente de se entusiasmar com canções como “Deixar Cair”. Não é coisa pouca, sobretudo tendo em conta a juventude do grupo portuense. Improváveis vencedores foram também os Brass Wires Orchestra e as suas canções acústicas com sopros devedores da alegre melancolia de Beirut – entraram no palco como anónimos, saíram sob uma chuva de aplausos.

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