Paredes de Coura: 20 anos de uma história de amor

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Os belgas dEUS, velhos conhecidos do festival, regressam este ano a Paredes de Coura e subirão ao palco na quarta-feira Paulo Pimenta

O festival Paredes de Coura, que começa hoje, espera 20 mil pessoas por dia. Até sexta-feira dará o palco a vários nomes relevantes do cenário alternativo e assinalará o regresso dos Ornatos Violeta.

Para João Carvalho, esta é, "provavelmente, a melhor semana do ano". "É fazer um festival com música de que gostas no teu quintal", justifica o membro da Ritmos, a promotora que há 20 anos pôs de pé, pela primeira vez, o festival Paredes de Coura. A "melhor semana do ano" de João Carvalho começa hoje nas margens do Rio Taboão.

"É a nossa história de amor. Por muitas coisas que a gente faça, foi aqui que tudo começou", diz. "É feito no quintal onde andámos a jogar à bola, a um quilómetro das nossas casas; é a nossa história de amor, mudou as nossas vidas."

O festival mudou a vida dos membros da Ritmos - e ajudou a mudar a vida do pop-rock em Portugal ao apostar em nomes alternativos, uma linha entretanto seguida por outros festivais mais jovens.

Sem a Ritmos, João Carvalho teria sido, provavelmente, radialista. Outro membro da promotora courense seria sociólogo. "Se não aparecesse o festival, estaríamos todos fora de Paredes de Coura. Eu talvez não, sempre fui um bairrista convicto", diz.

Mas ficaram na vila minhota e viram o festival tornar-se uma referência da vida cultural portuguesa. Com o patrão do indie Stephen Malkmus, os Ornatos Violeta (cujo concerto será o primeiro dos cinco que vão dar este ano, uma década depois do fim), Kasabian e Anna Calvi, duas sensações da música britânica, no cartaz, o Paredes de Coura de 2012 é muito diferente do de 1993. Nesse ano actuaram apenas cinco bandas portuguesas, entre elas os Ecos da Cave, os Gangrena e os Cosmic City Blues.

A edição inaugural "foi uma brincadeira de adolescentes", conta João Carvalho. "Começou na praia fluvial do Taboão. Estávamos a ver um concerto de fados com cerca de mil pessoas. Achámos espantoso o número de pessoas que estava a ver fado. Na ingenuidade típica da adolescência fomos perguntar ao presidente da câmara se podíamos fazer algo para a juventude", diz. "Para quando?", perguntou o autarca. "Para a semana", responderam. Não foi numa semana, mas "foi em dez dias": nascia o festival Paredes de Coura.

Este ano, o festival conta com velhos conhecidos de Paredes de Coura, como os belgas dEUS (quarta-feira) e Erlend Øye (dos Kings of Convenience, que se apresenta quinta-feira com os The Whitest Boy Alive), e estreias em palcos portugueses, como os Sleigh Bells (colisão de batidas hip-hop, guitarras metal e uma vocalista irresistível, para ver quarta-feira).

Ano "atípico"

Destaque ainda para Stephen Malkmus, figura tutelar do indie rock, que se apresenta amanhã com os The Jicks, e para os tUnE-yArDs, figuras de proa do novo rock esquisito, também amanhã. Os Gang Gang Dance vão mostrar a sua música primitivo-futurista, simultaneamente pop e desafiante, na quinta-feira, noite em que os também americanos Of Montreal montarão o seu circo neopsicadélico. Na última noite, sexta-feira, para além do regresso dos Ornatos Violeta ("o acontecimento" do festival, segundo João Carvalho), o palco principal terá Dead Combo, Capitão Fausto e Ladrões do Tempo, um lote cem por cento português não fossem os ingleses The Go! Team e a sua pop ultravitaminada.

Como habitualmente haverá pachorrentos finais de tarde ao som de concertos jazz, na relva que ladeia o Taboão, e música de dança pela noite dentro, com figuras relevantes como Kavinsky, Crystal Fighters, Digitalism e Chromatics. A festa começa hoje, ainda em regime de aquecimento, com os portugueses B Fachada, League e Salto, a partir das 21h00.

Não é o cartaz que João Carvalho idealizou para assinalar os 20 anos do evento. Gosta dele, mas reconhece a falta de um nome de peso (como os Queens of the Stone Age, exemplifica), apesar das várias tentativas goradas. Foi um "ano absolutamente atípico em que aconteceu tudo o que havia para acontecer": "bandas com problemas familiares, problemas de saúde", dificuldades de calendário e outros "azares". "Foi a edição mais difícil de fechar. Mas estamos orgulhosos. Foi o cartaz possível dentro do que havia disponível nestas datas", ressalva.

A afluência esperada (20 mil pessoas por dia, mais do que em 2011, algo "fantástico" até porque o festival acontece à semana, sublinha Carvalho) só demonstra o estatuto do festival, dono de uma "clientela" fiel.

"É o festival português com mais edições e aquele que melhores condições oferece às pessoas", garante João Carvalho, acrescentando que Paredes de Coura "é um festival de música" e que tentam "evitar o folclore das marcas". O organizador acredita que "as pessoas sabem que Paredes de Coura é sinónimo de qualidade" e, por isso, é possível ver "às seis da tarde, milhares de pessoas a ouvir bandas que ninguém conhece". Carvalho reserva as suas últimas palavras para agradecer aos fãs a confiança depositada: "Tenho vontade de ir para a porta do festival abraçar um a um."

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