Suspeitas de espionagem levantadas por Zita Seabra não têm "crédito" para o PCP

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Zita Seabra acusou o PCP de utilizar o ar condicionado como técnica de espionagem nos anos 80. Foto: Paulo CArriço

A influência da Guerra Fria levou o PCP a espiar o Governo através dos aparelhos de ar condicionado colocados nos gabinetes, de acordo com Zita Seabra. O PCP desvalorizou a acusação, tendo por base o facto de serem proferidas pela ex-dirigente comunista expulsa do partido. Alexandre Alves, gestor da empresa de ar condicionado, peça fundamental no esquema, considerou as acusações "absurdas".

A antiga dirigente comunista, Zita Seabra, revelou que o PCP espiava os gabinetes ministeriais na década de 1980, colocando microfones nos aparelhos de ar condicionados produzidos pela Fábrica Nacional de Ar Condicionado (FNAC). A antiga comunista, agora militante do PSD, contou, em declarações à SIC Notícias, na quarta-feira à noite, que os aparelhos eram colocados “em tudo o que era ministério, em sítios nevrálgicos e em órgãos de poder”.

A FNAC era gerida pelo empresário Alexandre Alves, também conhecido como “barão vermelho” pelas ligações ao PCP e por ser um confesso benfiquista e, segundo Zita Seabra, “a empresa de ar condicionado era particularmente simpática do ponto de vista da Guerra Fria e do PCP, pois obviamente os ares condicionados entravam em tudo o que era gabinete”.

“As afirmações dessa pessoa, nesta como noutras matérias, não merecem qualquer crédito ou comentário.” Esta foi a única reacção que o PÚBLICO conseguiu obter junto do PCP. Ao invés, o empresário Alexandre Alves já reagiu, na quinta-feira, às suspeitas levantadas por Zita Seabra, também em declarações à SIC Notícias.

O “barão vermelho” diz que as acusações proferidas por Zita Seabra são de “uma ignorância absoluta” e que “não fazem sentido”. Para o empresário tal cenário é “absurdo conhecendo a tecnologia do ar condicionado”. "Os aparelhos não vinham embalados e fechados, eram todos abertos e montados, metendo-se o tubo de cobre e o gás. Por isso, isto não faz sentido”, explicou, quando questionado sobre o assunto pelo jornalista da SIC Mário Crespo.

A dissidente do partido conta ainda que a FNAC sobrevivia “com financiamento da República Democrática Alemã” e que “várias das empresas que o PCP tinha não se aguentaram após a queda do Muro de Berlim”, circunstância que se verificou na FNAC, que faliu em 1994. Zita Seabra indicou o nome de Mário Lino, antigo ministro das Obras Públicas de José Sócrates, como uma das “pessoas responsáveis” pelas empresas com ligações ao PCP, que após o fim da Guerra Fria acabaram por falir.

“Garanto em absoluto que em circunstância nenhuma recebi alguma influência. A FNAC recebeu Presidentes da República, ministros e membros do partido do Governo e por isso não faz sentido dizer isso”, respondeu Alexandre Alves às acusações de Zita Seabra. O empresário explicou que o financiamento da FNAC vinha de bancos portugueses e espanhóis.

Apesar de levantar suspeitas sobre a rede de espionagem montada pelo PCP, a antiga dirigente comunista disse não ter conhecimento sobre algum caso em específico. “Eu não posso afirmar que tive conhecimento que estava um microfone em qualquer ar condicionado”, assegurou Zita Seabra, no mesmo espaço noticioso da SIC Notícias. No entanto, conta que “era muito frequente brincar-se dizendo: em que gabinete está aquele ar condicionado?”.

Zita Seabra adiantou também na entrevista com Mário Crespo que existiam instituições do Estado que se recusavam a adquirir equipamentos à empresa de ar condicionado, apontando a Presidência da República como um dos casos. A antiga comunista, que depois foi deputada pelo PSD, ainda gracejou com o assunto. “Havia vários militares que gostavam muito do ar condicionado da FNAC para satisfação do PCP”, disse.

O empresário vincou que todo o cenário descrito por Zita Seabra “deve ser algum filme ou algum livro que deve estar prestes a sair ".

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