Mercados à espera dos planos do BCE para lidar com a crise

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Mario Draghi, presidente do BCE, procurou recolher o apoio de outros membros do conselho do banco e políticos europeus Daniel Roland/AFP Photo

Os investidores europeus aguardam com expectativa o anúncio que o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, irá fazer nesta quinta-feira, pelas 13h30 (hora de Portugal continental).

Foi o próprio Mario Draghi que prometeu aliás fazer “tudo o que for necessário” para preservar a moeda única, desde que dentro do mandato do BCE, num discurso a 26 de Julho. “E acreditem, será o suficiente”, afirmou na altura.

Tenha sido uma promessa concreta ou uma estratégia passageira para aumentar a confiança dos mercados (os mercados de acções reagiram em alta durante três sessões consecutivas), os investidores esperam que do encontro da instituição europeia saiam medidas inovadoras.

Nestas últimas semanas, o presidente do BCE tem procurado reunir o apoio entre membros do conselho do banco central e políticos europeus, de forma a encontrar uma saída para a crise. Em causa tem estado especialmente a forte subida dos juros que pesam sobre a dívida pública espanhola e italiana, castigadas pelos investidores.

Uma das soluções defendidas por Draghi, indica a Bloomberg, será o fundo europeu de resgate comprar obrigações de dívida de países europeus no mercado primário, mas financiado no mercado secundário pelo BCE. Desta forma, ao contrário do que está agora a suceder, as taxas de juro praticadas pelo BCE passariam efectivamente para os mercados da dívida.

No entanto, apesar do aparente apoio da Alemanha, França e Itália, subsistem dúvidas quanto ao sucesso deste plano, uma vez que para o fundo europeu de resgate adquirir dívida pública, esse Governo teria de fazer um requerimento, sendo obrigado a cumprir condições. E o chefe do Tesouro espanhol, Inigo Fernandez de Mesa, já avisou que não há qualquer intenção de entrar nesse jogo.

Outra alternativa seria o BCE voltar às compras de dívida pública no mercado, tal como estava a fazer até Março, mas neste campo enfrenta a oposição do Bundesbank, o banco central europeu.

Jens Weidmann, presidente do Bundesbank, defendeu em declarações ontem publicadas no site do banco central alemão que a independência do BCE obriga a que este “respeite e não passe por cima do seu próprio mandato” de prevenir a subida da inflação. Os políticos “sobrevalorizam as possibilidades do banco europeu” quando se trata de suportar o crescimento económico, criar emprego e estabilizar o sistema bancário, disse também.

Opinião contrária foi a demonstrada pela chefe do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, que defendeu também ontem que a autoridade financeira da zona euro pode fazer mais para resolver a crise europeia.

Vários economistas têm referido ainda outras alternativas, como a atribuição de uma licença bancária ao mecanismo europeu de estabilidade (ESM), que iria permitir àquela entidade financiar-se directamente junto do BCE. No entanto, são fracas as expectativas quanto ao anúncio de uma medida deste teor.

“Uma licença bancária ao ESM ou compras totalmente abertas de obrigações de dívida pública iriam violar as regras que proíbem o BCE de financiar os défices”, avisou Tobias Blattner, economista no Daiwa International em Londres, citado pela Bloomberg. “Esta é capaz de ser das conferências de imprensa mais importantes na história do BCE. Mas as expectativas dos mercados estão a ultrapassar a realidade.”

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