“É bom ter razão”, diz Peter Higgs

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Peter Higgs é tão recatado como o bosão a que deu o nome David Moir/Reuters

Peter Higgs não podia estar mais contente, porque, afinal, tem razão. O físico britânico deu uma conferência, nesta sexta-feira, na Universidade de Edimburgo, na Escócia, sobre a descoberta quase certa do bosão de Higgs, feita no grande acelerador do Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN). Higgs pensou na existência da partícula há quase 50 anos, mas ficou espantado que, ainda durante a sua vida, uma experiência conseguisse comprovar a existência do evasivo bosão.

Na conferência de imprensa, perguntaram-lhe o que sentia por ter razão. “Às vezes, é muito bom ter razão… Foi, certamente, uma espera longa”, respondeu o britânico de 83 anos, citado pela agência AFP.

Foi há quase 50 anos que Higgs e outros cinco cientistas propuseram a existência desta partícula. Em 1964, o físico, que trabalhava na Universidade de Edimburgo, publicou dois artigos que defendiam a existência daquilo que viria a ser conhecido por bosão de Higgs, a partícula das partículas, que dá massa às outras partículas e faz com que o Universo seja como nós o conhecemos.

O britânico não foi o único a chegar a essa conclusão. Semanas antes, Robert Brout (falecido em 2011) e François Englert, dois físicos belgas, publicaram um artigo a propor este bosão utilizando outro raciocínio. No final de 1964, os norte-americanos Tom Kibble, Gerald Guralnik e Carl Richard Hagen também escreveram um artigo a defender o mesmo.

Só agora, depois do grande acelerador de partículas LHC ter sido inaugurado em 2008, é que foi possível comprovar a sua existência, ao fazerem-se colidir, com muita energia, dois feixes de protões. Nos próximos meses, os físicos do CERN irão tentar compreender melhor as características da partícula descoberta, para confirmar se o bosão é, de facto, o “bosão de Higgs”. Qualquer que seja o resultado, abriu-se a porta a uma nova física, que está a estimular tanto os físicos teóricos como os experimentalistas.

Mas, na quarta-feira, logo após o anúncio da descoberta em Genebra, a comunidade científica foi assaltada pelos jornalistas com a questão: “E agora, o Nobel da Física vai finalmente para Peter Higgs?” O igualmente famoso físico britânico Stephen Hawking disse logo que Higgs merecia o galardão máximo da ciência. Mas, um dos problemas, é que a Real Academia das Ciências Sueca só dá o Nobel a três pessoas e neste caso, existem cinco físicos vivos elegíveis.

Na conferência em Edimburgo, Higgs fez ricochete à questão do Nobel: “Não sei, não tenho amigos no comité do Nobel”, disse, acrescentando que a questão de haver cinco físicos para três lugares era um problema que a academia sueca teria de resolver se estivesse interessada nisso.

Sobre a sua carreira, o britânico disse ainda que deixou de contribuir para o avanço da física teórica desde os meados da década de 1980 por ser demasiado velho. “Não podia, com aquela idade, adquirir o conhecimento novo de matemática que era necessário para dar uma contribuição, por isso parei.”

No futuro, disse o cientista aos jornalistas, vai continuar a viver a sua reforma. “O único problema, acho, é que vou ter de evitar a comunicação social”, atirou, bem-disposto. Tal como o bosão a que deu o nome, Higgs é conhecido por ser recatado.

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