Mais uma vez, a selecção francesa volta a casa em cacos

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O rendimento de Benzema tem sido questionado Foto: Patrick Hertzog/AFP

A selecção francesa voltou a despedir-se de uma grande competição sem deixar marca. Ou, pior, deixando uma imagem francamente negativa: os bleus foram eliminados pela Espanha nos quartos-de-final do Euro 2012, com uma exibição marcada pela postura receosa com que enfrentaram o adversário. No final da partida, Samir Nasri (que tinha começado no banco de suplentes após três jogos seguidos a titular) foi o protagonista de cenas lamentáveis, com insultos a um jornalista da agência AFP: "Vai levar no cu. Vai foder a tua mãe, seu porco filho da puta. Queres explicações, vai levar no cu. Voilà, assim podes escrever que sou rude", disse o extremo do Manchester City, quando questionado sobre a exibição francesa.

Foi mais um triste final para a França e os franceses, que ainda têm frescos na memória os fiascos de 2010 e 2008 (eliminação na fase de grupos do Mundial e Euro, respectivamente, em último lugar com um ponto somado e um golo marcado). Na África do Sul, o ambiente chegou a tornar-se irrespirável na equipa então orientada por Raymond Domenech: vários jogadores fizeram frente ao técnico, houve troca de insultos e greve aos treinos. Anelka acabaria expulso da selecção.

No final da prova, Domenech saiu e foi rendido por Laurent Blanc. O ex-defesa optou por uma abordagem conciliadora e foi colando os cacos da selecção. Mas tudo voltou a desabar na última semana. Após a derrota (0-2) frente à Suécia, no último jogo da fase de grupos, a imprensa francesa deu conta da "crise de nervos" vivida no balneário. Ben Arfa queixou-se de jogar pouco tempo e chegou a sugerir a Blanc que o mandasse para casa. Nasri discutiu com vários companheiros que reprovavam a sua falta de empenho nas tarefas defensivas.

"O problema número um é a falta de talento. É uma equipa sobrevalorizada. O nível da França são os quartos-de-final. Não era equipa para estar nas meias-finais ou na final", indicou ao PÚBLICO Olivier Bonamici, jornalista francês da Eurosport. "O mais grave é a atitude, que afinal não mudou muito. Houve os problemas com Nasri, com Ben Arfa. A imprensa é muito dura e tem levantado questões sobre a selecção. Alguns jogadores não estão habituados a este tratamento", acrescentou.

"Não há amor à camisola. A França é uma das selecções em que quase ninguém canta o hino. [Estes incidentes] não têm a mesma dimensão dos verificados no Mundial. Mas há uma vertente política, vai ser questionada a integração em França", acredita Bonamici, que aponta ainda a falta de liderança em campo: "Historicamente, a selecção francesa teve dois líderes, Platini e Zidane. Neste momento não tem nenhum."

O rendimento de Karim Benzema, avançado que fez 31 golos pelo Real Madrid mas se despediu do Euro 2012 sem qualquer remate certeiro (em 18 tentativas), também tem sido questionado. "Não deixa de ser um fracasso não ter marcado qualquer golo", sublinha Bonamici.

No centro do furacão continua Laurent Blanc. No programa Téléfoot da emissora TF1, o técnico admitiu que os insultos de Nasri ao jornalista da AFP são negativos "para a imagem do jogador e para a própria equipa", falando num "problema" de Nasri com a imprensa - o médio já tinha mandado calar um jornalista do L"Équipe quando marcou à Inglaterra.

Para já, é tempo de regressar a casa e sarar feridas. O futuro de Blanc está em aberto (o técnico foi evasivo sobre o assunto), até porque ainda não renovou o contrato com a Federação francesa e é cobiçado por clubes da Premier League. "Vai depender do projecto que a federação tiver. E, a continuar, como é que ele vai limpar a péssima imagem deixada pela França e pelos jogadores franceses?", questiona Bonamici.

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