Beleza espanhola

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Faz hoje dois anos estava em Barcelona, onde assisti à estreia da selecção espanhola no Mundial de futebol. Foi num café, repleto de espanhóis, que assisti à vitória da Suíça (1-0). Espanha era a grande favorita, mas no final a desilusão tomou conta dos rostos que vituperavam este e aquele jogador e, claro, o seleccionador Vicente del Bosque. Por causa de uma derrota, a gentil forma de jogar era posta em causa e toda a gente falava num fim de ciclo para a equipa que dois anos antes havia vencido o Europeu.

Todos menos Vicente del Bosque. Na conferência de imprensa que se seguiu limitou-se a dizer: "Perdemos, mas não vamos mudar absolutamente nada." A sua confiança era inabalável. Depois, como se sabe, a Espanha acabou por ganhar de forma brilhante. Venceu a competição porque marcou mais golos. Mas obteve também o respeito daqueles que, independentemente dos resultados, das cores e do aparatoso mediatismo, do que gostam mesmo é do jogo, dentro do campo, e da forma como ele é expressado também fora dele.

Confesso que, nos últimos meses, depois da derrota do Barcelona contra o Real na campeonato espanhol, da vitória do Chelsea na Liga dos Campeões e do jogo inaugural menos conseguido da selecção contra a Itália temi que fosse o ocaso do futebol elegante de Espanha. O italiano Trapattoni, seleccionador da Irlanda, na 4ª feira, véspera do jogo com Espanha, havia ameaçado: vamos jogar como o Chelsea.

Mas Espanha ganhou 4-0. Sim, contra uma débil Irlanda. E sim, não se percebe ainda se os jogadores não irão sofrer da mesma síndrome competitiva do Barcelona, depois de ganhar tudo, mas parece certo que vamos ter mais Espanha neste Euro. É uma boa nova para quem gosta de futebol. Para quem gosta de sim em vez de não. Da coragem em vez do medo. Da beleza em vez da fealdade. De futebol bailado.

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