A Irlanda será o Chelsea frente a uma espécie de Barcelona

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Trapattoni é, aos 73 anos, um dos treinadores mais velhos do mundo Foto: Patrik Stollarz/AFP

Robbie Keane deixou o aviso: "O jogo contra a Espanha será como o Barcelona-Chelsea." Palavras incríveis vindas de um avançado e para mais acostumado a um futebol de ataque, mas agora a República da Irlanda é treinada pelo italiano Trapattoni, rei do catenaccio. Portanto, nenhuma surpresa. Hoje, quando os irlandeses entrarem na Arena de Gdansk, enfrentam a poderosa Espanha, numa partida que será apitada pelo árbitro português Pedro Proença (o mesmo juiz que nesta temporada dirigiu a final da Liga dos Campeões, entre o Chelsea e o Bayern Munique).

Tudo isto à sombra do venerado Giovanni Trapattoni, o mestre desse futebol italiano defensivo, com a mente apenas disposta em destruir o futebol mais criativo do mundo. A campeã mundial e europeia terá de assumir o papel de Barcelona e Del Bosque o de Guardiola, apesar de este ter saído pela porta pequena nas últimas meias-finais da Champions ante o Chelsea de Di Matteo.

A boa notícia para a Espanha é que a Irlanda não é o Chelsea, campeão europeu, e não tem jogadores como Drogba, e pode assumir o jogo com vários futebolistas dos blues como Fernando Torres ou Mata. Só que Il Trap, alcunha que lhe colaram em Itália, consegue tirar o melhor de atletas sem grande brilho, com pouca técnica.

Trapattoni é, aos 73 anos, um dos treinadores mais velhos do mundo (o mais velho do Euro 2012). Com fama de lunático: fala vários idiomas mas é difícil entendê-lo, antes dos jogos tem o costume de levar água benzida para o banco. Os títulos que conquistou parecem dar-lhe razão: foi campeão em quatro Ligas diferentes (italiana, alemã, austríaca e portuguesa) e venceu todos os títulos europeus de clubes.

É o ex-treinador campeão pelo Benfica que agora tenta um milagre com a Irlanda, depois da derrota no primeiro jogo com a Croácia (3-1). A Espanha, que empatou com a Itália (1-1), parece ter ficado ferida. Cesc Fàbregas diz que não e abre o jogo: "Os espanhóis estão mal habituados."

Del Bosque já avisou e deu a entender que vai repetir a mesma equipa. Ou seja, poderá jogar sem um 9 puro, sem ponta-de-lança, como fez com a Itália. Foi Fàbregas a fazer esse lugar, por acaso o homem do golo da Espanha.

"Não faço essa análise assim. Isso seria fácil. Marquei eu, mas podia ter sido Iniesta e Silva, ou Xavi, Xabi Alonso também rematou, Navas esteve perto de marcar, Torres também... Jogámos bem. Podemos jogar melhor, mas jogámos bem. Estamos é mal habituados, e essa exigência é normal, é futebol", disse Fàbregas, autor do passe para o golo de Iniesta na final do Mundial 2010.

A arte contra o suor e a resistência da Irlanda de Trapattoni, como o fizeram na fase de qualificação. Os irlandeses chegam ao seu primeiro grande torneio em 10 anos e isso, por si só, é uma vitória.

"Paciência", pede Busquets, independemente de quem jogará na frente, se Torres ou Negredo ou Llorente ou se insistirá no falso 9. Na Irlanda lembram que foi o guarda-redes irlandês Shay Given, do Aston Villa, que viu Torres terminar com a série de seis meses sem marcar com a camisola do Chelsea.

"Espanha era famosa por nunca ter ganho nada nas grandes competições, mas já superaram isso", destaca Given. "Temos futebolistas capazes. Outras vezes, quando todos pareciam rendidos, os jogadores demonstraram que temos uma equipa decente. Queremos repetir isso." A Trapattoni resta aspergir a água benzida por uma freira (ele é um profundo católico), à espera de um contra-ataque abençoado que salve a "sua" Irlanda.

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