Banga

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Parece que nunca nos abandonou verdadeiramente nos últimos anos. E é verdade. Mas foram projectos que remetem mais para a sua faceta de artista total, como o excelente "The Coral Sea" (2008) na companhia de Kevin Shields (My Bloody Valentine), com a memória da relação com o fotógrafo Robert Mapplethorpe no centro dos eventos, ou o livro "Just Kids". Na verdade já não lançava nenhum disco de originais há 8 anos.

"Banga" é o 11º álbum de estúdio de Patti Smith, hoje com 65 anos, e é excelente. O seu melhor desde há muitos anos. Curiosamente foi procurar alguns dos protagonistas que também estiveram presentes na sua obra mais icónica - "Horses" (1975) - como o guitarrista Lenny Kaye, o baterista Jay Dee Daugherty ou Tom Verlaine (Television). É um disco recheado de referências, a começar pela designação "Banga", inspirada na novela "O Mestre e Margarida" do russo Mikhail Bulgakov. Mas há mais, como uma canção dedicada à cantora Amy Winehouse ("This is the girl"), outra que tem o Tsunami do Japão em fundo ("Fuji-san") e até uma versão de "After the gold rush" de Neil Young e uma canção feita a pensar no aniversário do actor e amigo Johnny Depp ("Nine"), para além de alusões ao realizador Andrei Tarkovsky ou à actriz Maria Schneider do filme "O Último Tango em Paris". É uma obra diversa, mas não dispersa. Apesar da multiplicidade de referências, algumas delas mundanas e imediatas, a poesia de Patti Smith evita sempre o simplismo, não perdendo o fio exploratório. Mas a grande notícia é que está a cantar melhor do que nunca, de maneira meditativa mas sensual, suportada pela presença de Lenny Kaye, que parece ter tido papel importante na procura de uma linguagem sonora desafiante e amadurecida. Em "Americo" é sonhadora, em "Maria" reflexiva, em "April fool" imediata e em "Constantine''s dream" esotérica, numa longa deambulação inspirada pela pintura de Piero dello Francesca. É um disco que se divide por canções como "Fuji-san" e "Banga", onde recupera a veia musculada e roqueira, ou "This is the girl", uma balada onde é graciosa como talvez nunca ouvíramos, evocando Amy Winehouse, que nunca conheceu. Diz que nunca se sentiu tão desperta criativamente. "Banga" parece dar-lhe toda a razão.

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