Fitch corta rating de Espanha em três níveis

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Foto: Pierre Philippe Marcou/AFP

A agência de notação Fitch desceu a nota da dívida espanhola de A para BBB, uma descida de três escalões, que coloca o país dois níveis acima de "lixo". A agência fala num aumento da probabilidade de ajuda externa e mantém perspectiva negativa para a notação de crédito.

A agência de notação justificou o corte com os custos da recapitalização da banca, que a Fitch estima rondarem os 60 mil milhões de euros, podendo, num cenário mais grave, ascender aos 100 mil milhões (entre 6% e 9% do PIB).

A Fitch estima também que a dívida pública atinja em 2015 um pico de 95% do PIB, no cenário mais conservador de recapitalização da banca.

“O elevado nível de dívida externa em Espanha colocou o país particularmente vulnerável a contágio da crise em curso na Grécia e a reduzida flexibilidade financeira do governo espanhol está a causar constrangimentos à capacidade de intervir decisivamente na reestruturação do sector bancário”, refere o comunicado da Fitch, que argumenta que estes factores aumentam “a probabilidade de apoio financeiro externo”.

A decisão da Fitch poderá acrescentar pressão sobre os juros da dívida pública espanhola, cada vez mais próximos dos níveis que levaram Portugal a pedir ajuda externa.

Nesta quinta-feira, o governo de Mariano Rajoy realizou uma emissão de títulos do tesouro, com várias maturidades, e a procura excedeu os níveis esperados. Espanha conseguiu colocar 2075 milhões de euros junto dos investidores. Mas no caso da dívida emitida por um prazo de 10 anos, que geralmente serve de referência nos mercados, os juros que teve de pagar ultrapassaram os 6,1%, o valor mais alto desde o início do ano.

Este nível de juros só é superado pelas emissões de Outubro do ano passado, quando a banca europeia estava praticamente sem liquidez, obrigando o BCE a disponbilizar às instituições financeiras europeias, em duas operações, um bilião de euros em empréstimos a três anos e com taxa de juro de 1%.

O movimento ascendente das taxas de juro da dívida espanhola tem muito a ver com a situação da banca, que tem vindo a acumular perdas relacionadas com o risco assumido no mercado imobiliário.

O Fundo Monetário Internacional deverá divulgar na segunda-feira um relatório sobre as necessidades de recapitalização da banca espanhola, situando as necessidades num mínimo de 40 mil milhões de euros e num valor máximo de 90 mil milhões.

Sem liquidez para fazer face a estes encargos, o governo espanhol tem procurado conseguir uma ajuda directa do fundo de socorro do euro aos bancos locais, mas a Alemanha opõe-se a esta solução, que vai, aliás, contra os tratados da União Europeia. Se este expediente fosse possível, Rajoy evitaria pedir um resgate financeiro que vem sempre acompanhado de um conjunto de medidas de austeridade e de uma supervisão externa pronunciada – como acontece com Portugal.

Notícia actualizada e corrigida às 18h20

A notícia indicava erradamente que a redução colocava a dívida espanhola no patamar de "lixo". Acrescentados detalhes do relatório da Fitch e informação de contexto


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