Depois do empate sem golos e com assobios frente à Macedónia, a selecção portuguesa defronta neste sábado na Luz a Turquia. Dentro de uma semana estreia-se no Euro, frente à Alemanha.

O Estádio da Luz vai encher. Mais de 60 mil espectadores são esperados no recinto do Benfica para ver a selecção portuguesa jogar pela última vez antes de partir à conquista do Euro 2012 (19h45, RTP1), exactamente a uma semana e duas horas de se estrear no torneio em Lviv, frente à Alemanha. A Turquia será o último teste da formação orientada por Paulo Bento, a derradeira oportunidade para afinar estratégias e para recuperar algum tipo de veia goleadora, que esteve ausente nos dois últimos particulares da selecção, empates sem golos com a Polónia, em Fevereiro passado, e a Macedónia, há poucos dias.

Paulo Bento reconhece que há problemas na finalização, mas confessa que não está demasiado preocupado. Como o próprio se descreveu, é "um optimista por natureza". "A finalização deixou-nos alguma preocupação, por termos criado pouco no último jogo. O jogo com a Macedónia não foi um problema de empenho, foi de desempenho. A verdade é que tivemos alguma lentidão no processo ofensivo e é isso que vamos tentar corrigir. A Turquia é uma equipa que vai jogar de forma diferente", frisou Paulo Bento. Desvalorizou o facto de Portugal ainda não ter ganho, nem ter marcado qualquer golo nos dois jogos que fez em 2012: "A selecção não joga todas as semanas. É algo que nos acontece com alguma regularidade: entrar numa depressão cedo de mais. Muito dificilmente seremos uma equipa sem confiança, sou optimista, mas também realista. Estou preocupado, mas sem exageros."

A repetição na Luz dos assobios ouvidos em Leiria também não preocupa Bento. "Acredito que vai ser um bom ambiente. Ao público assobiar é um direito que lhes assiste, mas não acabaremos o jogo mais cedo, se isso acontecer. Não vou substituir um jogador só porque está a ser assobiado. Tem de ter personalidade e carácter para enfrentar os momentos mais adversos", garantiu o seleccionador nacional.

Paulo Bento não quis revelar o "onze", o que diz ser habitual. Aliás, o último treino em Óbidos foi à porta fechada, mas, pelo que se conseguiu perceber nos poucos minutos abertos, todos os jogadores treinaram sem limitações e, tendo em conta a proximidade do primeiro jogo do Euro, é provável que Paulo Bento apresente de início um "onze" aproximado ao plano de ataque para os germânicos - a Alemanha fê-lo no seu último particular com Israel -, mas poderá aproveitar para testar Custódio de início como médio mais defensivo, uma posição ocupada por Miguel Veloso frente à Macedónia.

No último dia de trabalho em Óbidos, que se despediu da selecção portuguesa em festa, Paulo Bento fez um balanço positivo do estágio. "Se tivesse de dar nota ao estágio, daria a nota máxima. Os jogadores foram inexcedíveis com o treino e com as regras, sairemos daqui muito melhores do que quando chegámos", disse o técnico. Admitiu, no entanto, que é impossível colocar todos os jogadores no mesmo patamar físico: "Vêm de contextos diferentes".

Bento voltou ainda a falar das responsabilidades de Cristiano Ronaldo na selecção portuguesa, acentuando que não se pode pedir ao jogador do Real Madrid que resolva todos os problemas: "Não acredito que a pressão lhe trave o rendimento, que tem sido bom na selecção. Não fazendo os dois primeiros jogos, ainda foi o nosso melhor marcador. Não tem a pressão de resolver todos os nossos problemas, mas esperemos que resolva alguns. Ter um dos melhores jogadores do mundo não é suficiente. Era bom deixar de comparar o rendimento dos jogadores nas equipas e nas selecções. Ele tem treinado sempre e bem. Vamos tentar gerir da melhor forma, o que não queremos é que ele tenha a pressão de que tudo tem de ser resolvido por ele.". Ronaldo, entretanto, garantiu chegar ao Euro num bom momento. "Vai ser um torneio divertido, temos todos esperança de estar bem. Vou fazer um bom torneio e estarei em boa forma", afirmou.

A Turquia é daquelas selecções que Portugal já defrontou várias vezes em competições oficiais (cinco), com apenas dois jogos particulares, em 1996 e 1956, com uma vitória para cada lado, ambas por 3-1. Os turcos também estiveram no caminho dos portugueses na fase de qualificação para o Mundial de 1966, com dois triunfos lusos. Em fases finais, as duas equipas encontraram-se no Euro 96, Euro 2000 e Euro 2008, sempre com vitórias portuguesas. Depois de defrontar Portugal, a Turquia, que não se qualificou para o Euro 2012, ainda irá jogar com a Ucrânia, um dos anfitriões.

Apesar de poder existir algumas semelhança entre a Turquia a Alemanha por haver alguns jogadores na selecção turca que nasceram e fizeram a sua formação futebolística em território germânico, como a dupla do Real Madrid Sahin e Altintop, a verdade é que a diferença de valores é enorme - a Alemanha é 2.ª no ranking FIFA, a Turquia está em 33.º. E tendo em conta que a Macedónia é a 98.ª selecção do mundo (todas as selecções do Grupo B estão no top ten), cumpre-se a tradição de afinar estratégias com equipas menos poderosas, mas que possam ensinar alguma coisa. Antes do Mundial 2010, por exemplo, os portugueses defrontaram três selecções africanas (Cabo Verde, Camarões e Moçambique) antes de encontrarem a Costa do Marfim no torneio.

A história dos particulares da selecção portuguesa nos dias anteriores ao início das fases finais de grandes competições é quase 100 por cento vitoriosa, com duas excepções, uma derrota com a Jugoslávia antes do Euro 84 e um empate sem golos com Cabo Verde em 2010. Assim, nos jogos imediatamente anteriores aos torneios, Portugal tem marcado quase sempre golos. E passar dois jogos sem marcar é algo que já não acontecia desde a fase final do Mundial 2010, em que Portugal não conseguiu bater as defesas do Brasil e da Espanha.