Günter Grass critica Europa e apoia Grécia em novo poema controverso

Foto
Günter Grass voltou a usar um jornal alemão para publicar um novo poema de cariz político Miguel Manso

Quase dois meses depois de ter comparado Israel com as ditaduras, o escritor Günter Grass voltou a publicar um poema no jornal alemão Süddeutsche Zeitung desta vez a criticar a política da Europa em relação à Grécia, lamentando que esta, por estar a enfrentar uma crise económica, esteja a ser humilhada.

“A Vergonha da Europa”, assim intitulou o seu poema o escritor alemão, que não se conteve nas críticas à atitude da chanceler alemã Angela Merkel, que defende que a austeridade é a única forma de a Grécia suplantar a crise que atravessa. O Nobel da Literatura lembrou ainda a história da Grécia, a quem a Europa muito deve. “Tu vais definhar privada de alma sem o país que te concebeu, tu, Europa”, escreveu Günter Grass, num poema com 12 estrofes de dois versos cada.

O escritor, de 84 anos, vai ainda mais longe e num diálogo directo com a Europa, evidencia que é graças à riqueza histórica da Grécia, conhecida como fundadora do pensamento europeu, que muitos museus vivem. “Tu afastas-te do país que foi o teu berço, próximo do caos, porque não conforme aos mercados”, escreve Grass, acrescentando que a Grécia, que está a ser “condenada à pobreza, cujas riquezas ornamentam os museus”, é “agora mal tolerada”. “Humilhado, porque crivado de dívidas, um país sofre.”

Numa referência directa à história grega, Günter Grass termina o poema escrevendo que a Europa está a obrigar a Grécia a beber de um copo envenenado, tal como aconteceu com o filósofo grego Sócrates, depois de ter sido condenado à morte.

O poema não passou despercebido e está já a gerar controvérsia na Alemanha. Para Günther Krichbaum, presidente da comissão de assuntos europeus do Bundestag (Parlamento alemão), as palavras de Günter Grass ignoram a realidade. “Particularmente a realidade de que a Grécia foi enormemente ajudada com enormes esforços que, no fim, não vêm dos estados mas sim dos cidadãos e das suas carteiras”, disse ao The Independent o alemão, do partido de Merkel.

O poema de Günter Grass sucedeu as palavras da directora-geral do FMI, Christine Lagarde, que no sábado deu uma entrevista ao britânico The Guardian, onde disse que os gregos deviam pagar os seus impostos para conseguirem sair da crise. Lagarde deixou claro que não tenciona suavizar os termos do pacote de austeridade para a Grécia, afirmando-se mais preocupada com as crianças da África subsariana do que com os pobres gregos, porque elas “precisam mais de ajuda do que as pessoas em Atenas”. Se as crianças gregas estão a ser afectadas pelos cortes na despesa pública, disse a responsável pelo FMI, os pais têm de assumir responsabilidades: “Têm de pagar os seus impostos”.

Em Abril, Günther Grass foi considerado “persona non grata” em pelo governo israelita, depois de ter publicado um poema no qual advertia que o Estado judaico era uma ameaça para o mundo devido ao seu poder nuclear.

Defensor de causas de esquerda e que se manifestou por exemplo contra as intervenções militares no Iraque, o escritor alemão foi durante décadas considerado uma espécie de "consciência moral" da Alemanha.

Sugerir correcção
Comentar