Euro recebe novo apoio do G20, mas há sinais de que pode ser o último

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Timothy Geithner, secretário do Tesouro dos EUA, recusou dar mais fundos, Jun Azumi, ministro japonês das Finanças, aceitou Foto: Yuri Gripas/Reuters

EUA e Canadá recusaram-se a aumentar os seus compromissos junto do FMI. Os países emergentes avançam, mas impõem condições. O reforço de 430 mil milhões de dólares pode ser o último.

Com os mercados mais uma vez a exercerem forte pressão, a zona euro recebeu em Washington a boa notícia que desejava: o resto do Globo está disponível para entregar, através do FMI, mais dinheiro para ajudar contra um eventual agravamento da crise. No entanto, são vários os sinais de que, em muitos pontos do Globo, a generosidade em relação à Europa pode estar a começar a esgotar-se.

De acordo com o comunicado ontem emitido após a reunião dos países do G20 realizada na capital dos Estados Unidos, o Fundo Monetário Internacional vai ver reforçados para mais do dobro os fundos com que conta para emprestar dinheiro a Estados em dificuldades. Actualmente, contava com 380 mil milhões de dólares (cerca de 290 mil milhões de euros), mas no final da reunião concluída na sexta-feira ao fim do dia, ficou garantido, através do contributo de vários países, que a esse montante serão acrescentados mais 430 mil milhões de dólares (325 mil milhões de euros).

Em teoria, este dinheiro não é destinado à zona euro. Pode ser utilizado para conceder créditos a países de todo o Mundo, caso precisem e aceitem as condições impostas pelo FMI. Mas nas actuais circunstâncias, em que já três países da zona euro receberam crédito do FMI (Grécia, Irlanda e Portugal) e em que todos os dias se coloca a hipótese de um reforço dos pacotes já existentes ou de uma nova intervenção noutro país do euro, como a Espanha ou a Itália.

Sendo assim, os países que aceitarem agora reforçar os cofres do FMI, fizeram-no como um contributo para evitar o agravamento da crise do euro. Na prática são mais 230 mil milhões de dólares com que a zona euro fica para usar, já que 200 mil milhões dos novos compromissos vêm de países da zona euro.

O problema para os líderes europeus é que não parece haver, a partir daqui, grande espaço de manobra para ajudas adicionais. Em primeiro lugar, alguns dos membros com maior peso no FMI já recusaram, desta vez, contribuir para um reforço dos meios do FMI. Os EUA são o principal exemplo.

Timothy Geithner, secretário do Tesouro norte-americano, afirmou que o aumento do poder de fogo do FMI era bem-vindo, mas preferiu não participar nesse esforço, afirmando sempre que é a própria zona euro que tem de resolver os seus problemas. A mesma posição foi assumida pelo Canadá.

Os países emergentes, nos quais se incluem a China, o Brasil, a Índia e a Rússia participaram com um reforço de 68 mil milhões de dólares, mas não sem antes colocarem algumas condições. Em primeiro lugar ficaram com a garantia que este esforço feito agora será recompensado no futuro com um reforço do seu poder na condução dos destinos do Banco Mundial e, principalmente, do Fundo Monetário Internacional. Além disso, como resposta às preocupações em relação ao peso que a zona euro está a ganhar nos empréstimos do FMI, foi também dada a garantia de que serão colocados limites à exposição do Fundo à crise do euro. Quais serão esses limites e quais os contributos dados por cada um dos países emergentes foram perguntas às quais não foram dadas ainda resposta.

Entre os países que reforçaram a sua ajuda destaca-se o Japão, que, colocado nos anos 90 com uma crise financeira semelhante à da zona euro, parece saber os desafios que a zona euro (e o resto do Mundo por conta do efeito de contágio) enfrenta.

Embora com uma linha de protecção reforçada através do FMI, os líderes euopeus saíram de Washington com a noção clara de que o apoio do resto do Mundo pode estar a chegar ao fim.

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