Directora-geral do FMI defende ajuda directa europeia a bancos de Espanha

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Lagarde defendeu o aprofundamento da integração da zona euro Foto: Mandel Ngan/AFP

A directora do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, defendeu hoje a recapitalização directa dos bancos espanhóis pelos mecanismos financeiros anticrise europeus, alertando para o “renovado stress” financeiro na zona euro como uma das “nuvens” do cenário económico global.

Falando na sua primeira conferência de imprensa nas reuniões de Primavera deste ano, Lagarde considerou “boas e muito bem-vindas” as medidas e políticas anunciadas pelo Governo de Madrid, que “está a levar muito a sério o assunto” da fragilidade dos bancos devido ao mercado imobiliário, mas afirmou que a União Europeia pode fazer mais.

Actualmente, disse, o Fundo Europeu de Estabilização Financeira e o Mecanismo de Estabilidade Europeia podem ser usados na recapitalização de bancos na zona euro, mas a ajuda tem de ser canalizada por empréstimos a fundos soberanos.

“O que estamos a advogar, temos vindo e vamos continuar a advogar, é que [a recapitalização] pode ser feita sem canalizar através dos fundos soberanos”, disse Lagarde.

“Veríamos isto como um movimento para uma maior e melhor integração, mais forte e melhor Europa”, adiantou.

Para Lagarde, a reorientação dos fundos deveria ser acompanhada de reforço dos mecanismos de supervisão europeia e de um “sistema apropriado de liquidação de bancos”.

Antes de responder a questões, Lagarde caracterizou a situação económica mundial recorrendo a uma “analogia meteorológica”, uma “recuperação ligeira soprando num vento de primavera, mas com nuvens muito negras no horizonte”.

Existe, assim, “uma recuperação, tímida, uma situação frágil, ainda com riscos elevados”, afirmou.

Os riscos, adiantou, são o elevado desemprego em economias avançadas e também emergentes, o prolongado crescimento lento, potencial desalavancagem, renovado stress financeiro elevado na zona euro e preços petrolíferos elevados.

Na Europa e zona euro, o “epicentro dos riscos potenciais de hoje”, foram tomadas “acções significativas” a nível dos governos e da UE, nomeadamente, a nível orçamental, imposição de disciplina e sanções mais fortes para os incumpridores, a par de um “envolvimento significativo das instituições europeias, em particular do Banco Central Europeu, e de uma expansão dos recursos do firewall europeu.

“Muitos de vocês gostam de argumentar que falta um bocadinho aqui e ali, mas se olharem para tudo no conjunto, é um pacote abrangente que mostra determinação significativa para defender a zona monetária”, disse Lagarde aos jornalistas.

“Se tivéssemos uma mensagem para a Europa e zona euro em particular, seria manter, para melhor e mais Europa; manter significa implementar reformas que tiveram lugar a nível nacional, dentro da zona monetária. Manter o aprofundamento da integração da zona a múltiplos níveis. E edificar sobre estes esforços”, adiantou.

Sobre a Grécia, Lagarde afirmou que “muito aconteceu” nos últimos meses, apontando para a mudança de governo e de abordagem, com um novo primeiro-ministro que “está a levar a sua tarefa muito a sério”, e mesmo na implementação das condições para os novos empréstimos, que têm sido passadas a lei.

Mas, adiantou, devem ser feitos mais esforços ao nível da colecta fiscal, para que o “fardo do povo grego” seja partilhado por todos.

Entre as principais tarefas para a reunião dos próximos dias estão o reforço dos fundos do FMI, da capacidade de supervisão multilateral, adiantar as negociações sobre as quotas dos países membros e lançar mecanismos de cooperação para “empurrar as nuvens negras para longe”, concluiu Lagarde.

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