A alga marinha mais comum consegue adaptar-se à acidificação dos oceanos

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A alga Emiliania huxleyi só tem uma célula e é constituída por delicadas placas de carbonato de cálcio L. T. Bach

Parece uma bola forrada a malha de crochê, mas não - é a alga mais abundante dos oceanos. Quando a sua proliferação se torna explosiva, a microscópica Emiliania huxleyi até consegue ser vista do espaço. Cá em baixo, é muito importante na cadeia alimentar e no ciclo de carbono do planeta, que tanto dá que falar por causa do aquecimento global. Cientistas alemães quiseram ver, num tipo de estudo inédito, como reage esta alga ao aumento de dióxido de carbono dissolvido na água do mar, que está a torná-la mais ácida. E descobriram que, ao fim de várias gerações, a renda de carbonato de cálcio da Emiliania huxleyi não era tão afectada como se temia e ela até tinha conseguido evoluir e adaptar-se.

As chaminés das fábricas estão a fumegar como nunca o fizeram na história da humanidade, o que atira para a atmosfera dióxido de carbono e outros gases com efeito de estufa. Como resultado, o planeta tem ficado mais quente, segundo o consenso entre a comunidade científica. Os oceanos também se ressentem de tanto dióxido de carbono que estamos a desenterrar a grande velocidade das profundezas do planeta, com a extracção de combustíveis fósseis como petróleo ou gás natural. Mais cedo ou mais tarde, é nos oceanos que quase todo este dióxido de carbono vai acabar.

Então, este gás dissolve-se na água e forma ácido carbónico, que aumenta a acidez do mar e afecta os organismos marinhos. Entre os mais afectados estão aqueles que constroem as carapaças, conchas e esqueletos de carbonato de cálcio, com a diminuição do crescimento e da taxa de calcificação, além do aumento de malformações. É o caso da Emiliania huxleyi, a personagem principal de uma experiência da equipa do biólogo Thorsten Reusch, do Centro Helmholtz para a Investigação do Oceano, em Kiel, Alemanha.

A carapaça desta alga unicelular é feita de várias placas delicadas de carbonato de cálcio, os cocólitos (a luz que reflectem torna-a visível do espaço quando prolifera em excesso, ao tornar leitosa a superfície do oceano). Quando morre e se deposita no fundo do mar, a Emiliania huxleyi acelera a remoção de carbono das águas superficiais, pois as suas placas ficam depositadas no leito marinho. Desta forma, ela desempenha um papel importante no ciclo do carbono. Mas até que ponto a interferência do homem nesse ciclo não irá afectá-la?

Publicada ontem na edição online da revista Nature Geoscience, a experiência da equipa de Thorsten Reusch consistiu em submeter a Emiliania huxleyi, ao longo de um ano, a várias concentrações de dióxido de carbono: as mais elevadas chegaram às 2200 partes por milhão (2200 moléculas por cada milhão de moléculas), o dobro do que se estima que aconteça no ano 2100 (1100 partes por milhão), se nada for feito para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa.

"A maior parte dos estudos sobre os efeitos da acidificação do oceano nos organismos marinhos, incluindo os cocolitóforos [algas marinhas unicelulares como a Emiliania huxleyi], tem sido de curto prazo e nenhum testou a adaptação evolutiva, um factor de grande desconhecimento quando se tenta prever os impactes da acidificação", escreve a equipa.

Ao fim de 500 gerações, a alga, que começou por ser afectada, conseguiu dar a volta às alterações ambientais provocadas pela subida do dióxido de carbono: "Ficámos surpreendidos por a alga ter restaurado em parte a calcificação, pela via da evolução adaptativa", diz ao PÚBLICO Thorsten Reusch. "O nosso contributo é termos mostrado que, depois de haver adaptação, as culturas cresceram menos mal. Mas há que ter em atenção que continuaram a crescer pior do que se não houvesse acidificação do oceano."

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