Capicua

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Para que a estreia de Capicua não fosse esquecida bastava uma canção: "1º dia", com a moça entregando rimas de escrita imaculada com uma facilidade desarmante. Em fundo há um beat maravilhoso de D-One, metais soul classy e teclas vintage: alta, alta canção.

Vale a pena atentar em D-One, porque é dele o espantoso beat da óptima "A volta": linhas de baixo soul, órgãos vintage, guitarrinha funky, metais a levantar, uma fasquia alta a que o flow de Capicua corresponde à grande - aquela subida no final é arrepiante, cinco estrelas. Mas ainda há "Medo do medo", rimas frenéticas a sucederem-se sobre um beat escuro pontilhado por palmas e um quase break-beat que provoca ansiedade. Em "Hora certa" um loop de piano é dobrado por metais, criando um fundo melancólico para a entrega das rimas prenhas de raiva sob o fim do amor: “Arrastar carcaças é desporto que não presta”, atira Capicua, e palminhas que a rima é alta e exacta. As grandes canções sucedem-se e "Os heróis" começa com uma marimba que recorda Bristol e acaba com cordas quase disco, uma delícia. É assim até ao fim: beats imaginativos, flow com força, rimas precisas (o talento desta moça para a escrita não pode ser desprezado), e aquilo que faz a diferença: a capacidade de ser íntima aqui, bruta ali, efusiva quando necessário, mas mantendo sempre, sempre, uma espécie de força vital. Muito bom.

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