Causa antitouradas e Educação Visual disputam reunião com Passos Coelho

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Movimento antitouradas já tem mais de seis mil seguidores e está em vantagem para a audiência com Passos Rui Gaudêncio

Em dois meses foram criados 1008 movimentos no portal do Governo. Os sete finalistas têm duas semanas para convencer apoiantes e dia 19 esgrimem argumentos num debate. Quem ganhar reúne-se com Passos.

Sérgio Caetano olha para a Catalunha e fica orgulhoso por "finalmente ter sido contrariada uma tradição enraizada, mas que já não fazia sentido nos dias de hoje". É isso que tenciona argumentar perante o primeiro-ministro, se o seu movimento Abolição das Corridas de Touros for o escolhido para ter uma audiência com Pedro Passos Coelho, na sequência de um concurso que o Governo lançou no seu portal na Internet. Vai bem lançado: foi o que reuniu mais apoiantes até agora - tinha ontem à tarde 6148 seguidores.

Já José Alberto Rodrigues gostaria que o executivo recuasse na intenção de acabar com a disciplina de EVT - Educação Visual e Tecnológica, e por isso criou, em nome da associação de professores desta disciplina, o movimento Em Defesa da Educação Visual e Tecnológica. A intenção do Governo é dividir os conteúdos de EVT pelas áreas curriculares de Educação Visual, Educação Tecnológica e Tecnologias da Informação e da Comunicação, e reduzir para metade o tempo semanal destas áreas.

Esta solução é um "claro desinvestimento na formação artística" e "aumenta a dispersão curricular dos alunos", considera José Alberto Rodrigues, professor de 38 anos, que diz falar em nome dos 2000 membros da associação. Em Portugal há 7000 professores de EVT a exercer actualmente. Os 2700 seguidores arregimentados até aqui colocam a EVT em segundo lugar no ranking de movimentos, visto como "uma oportunidade para fazer ouvir a voz destes professores". Longe do primeiro, José Rodrigues espera, porém, uma surpresa: que o gabinete abra uma excepção às regras do concurso e que permita que o primeiro-ministro receba os dois movimentos. "Representamos as duas categorias mais populares: a defesa dos animais e a Educação", argumenta.

Jornalista desempregado, morador em Castelo de Paiva, Sérgio Caetano, de 37 anos, diz que inscreveu o seu movimento antitourada como um "simples cidadão e não como activista". Não está ligado a nenhuma organizações de defesa dos animais, apenas ao ambiente através da Associação de Defesa do Vale do Paiva.

Diz-se "surpreendido" pela adesão que a sua causa teve. De tal maneira que os adeptos da tourada não gostaram: o blogue Naturales - Correio da Tauromaquia Ibérica apelou aos defensores da tourada que votassem na EVT para que o antitourada não fosse recebido por Passos Coelho.

Ambos realçam a inovação da iniciativa do Governo de abrir a porta a uma audiência com um movimento criado assim espontaneamente. "É importante haver uma aproximação entre o poder de decisão e as pessoas", diz Sérgio Caetano, enquanto o professor de EVT realça o "estímulo aos cidadãos para que participem efectivamente na vida pública". Mas avisam que agora a fasquia está alta. "A partir do momento em que se criam expectativas destas [o Governo] tem que compensar o cidadão. A audiência não pode ser só para ouvir, terá mesmo que tomar algumas medidas", avisa Sérgio Caetano.

Mil ficaram pelo caminho

Desde 10 de Janeiro foram criados no novo portal do Governo 1008 movimentos - a larga maioria no primeiro mês. A equipa que gere esta espécie de concurso recusou 148 propostas. Muitos movimentos têm um número de seguidores residual, mas as temáticas são muito variadas.

Além da educação, as áreas mais escolhidas são as da economia, finanças, política, saúde, justiça e governo. Não há, porém, movimentos sobre casamento homossexual ou racismo. Mas é possível encontrar vários movimentos em defesa da cannabis, da legalização da prostituição e do feriado no Carnaval.

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