Retrato da Ongoing: seis anos depois, o grande projecto de media morreu?

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Nuno Vasconcellos é o líder do grupo Ongoing, que quer um perdão de mais de 90% da dívida de 1100 milhões Pedro Cunha

O projecto de Rafael Mora e Nuno Vasconcellos para criar um grande grupo de telecomunicações, media e tecnologias pode ter entrado em agonia. A crise mundial pôs em evidência as fragilidades da Ongoing. A PT, que tem sido a sua bomba de oxigénio, já anunciou que será menos generosa com os accionistas. Mora, considerado o estratego, afastou-se dos holofotes. Vasconcellos continua a dar a cara pelo projecto.

Nuno Vasconcellos e Rafael Mora têm sido aves migratórias: ora estão em Lisboa, ora estão em São Paulo ou no Rio de Janeiro. A seguir rumam a Madrid. E já foram a Pequim. São o símbolo de uma época, marcada pelo culto da imagem e do dinheiro fácil, pela busca de influência. Os bastidores da actividade da Ongoing (que detém o Diário Económico) sempre despertaram curiosidade. Começou por ser um veículo do BES na Portugal Telecom mas, com o tempo, foi escapando à sua órbita. Nos últimos meses, surgiu envolvida em polémicas que juntam partidos, maçonaria e ex-espiões. Bem ao estilo de Mário Conde, que, nos anos 1980, "fascinou toda uma sociedade durante sete anos", como se lê em O Banqueiro de Rapina, crónica secreta de Mário Conde, de Ernesto Ekaiser.

É verdade que as influências criam solidariedades, mas não resolvem os problemas. A ambição pode ser traiçoeira? Os amigos desvalorizam as críticas. Outros sorriem quando o tema é a Ongoing. Um financeiro considera: "A montanha pariu um rato."

O estilo de actuação de Mora e Vasconcellos ou afasta ou aproxima. Quando estão em causa os seus interesses, fazem sair a artilharia pesada. Implacáveis.

Para este retrato da empresa, o PÚBLICO tentou várias vezes obter esclarecimentos de Nuno Vasconcellos e Rafael Mora, presidente e vice-presidente da Ongoing, que não se mostraram disponíveis.

Ao longo de vários meses, para compreender a sua ascendência meteórica, o PÚBLICO interrogou amigos, colaboradores, personalidades que, por diferentes razões, com eles se cruzaram. António Ramalho, José Galamba de Oliveira, Eduardo Catroga, Alípio Dias, Cunha Vaz, Carlos Barbosa, Filipe Pinhal, Joe Berardo, Alfredo Casimiro, Raul Mascarenhas, Miguel Relvas foram alguns dos que aceitaram prestar declarações. Houve quem declinasse. O padrinho de casamento de Mora, Luís Sá Couto, à frente da Andersen Consulting nos anos 1990, foi contactado, mas não atendeu o telefone. Outros não compareceram a encontros.

Antes de começar a desfiar as contas deste rosário, há que recuar até ao final da década de 1980.

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