O jogador "à FC Porto" joga como se o resultado estivesse sempre a zero

"O jogador "à FC Porto" é determinado, focado na tarefa, agressivo e competitivo. Nunca desiste, joga como se o resultado estivesse sempre a zero. Tem uma mentalidade ganhadora, não se acomoda, procura sempre mais e coloca os interesses do clube à frente dos seus".

Bárbara Lebreiro, de 28 anos, de Santa Maria da Feira, sabe do que fala. A avaliação é fundamentada em estudos científicos e em muito trabalho de campo. A ex-observadora do FC Porto, licenciada em Educação Física e Desporto, estudou as características do perfil ideal do jogador que veste a camisola "azul e branca" e os parâmetros a ter em conta na hora de escolher a matéria-prima para a formação do clube.

As conclusões estão explanadas na sua monografia "Scouting - Indicadores de Base na Detecção e Selecção de Jovens Talentos no Futebol", que apresentou no Instituto Superior da Maia, no final da licenciatura, em 2010. Os resultados foram baseados num inquérito feito a 18 treinadores da formação do FC Porto, todos homens, com idades entre os 26 e os 30 anos e grau académico superior.

A experiência como observadora durante dois anos foi determinante - trabalho que assume que gostaria de fazer durante toda a vida. "Há algumas dificuldades na procura dos talentos", reconhece, adiantando que, "para combater esse "tiro no escuro"", simplificou o processo através da criação de uma tabela. Pesquisou, reviu literatura, baseou-se nos indicadores de talento da performance de um jogador - ou seja, nas dimensões física, sociológica, psicológica, técnica, táctica e antropométrica -, e, a partir do sistema táctico usado pelo FC Porto na formação, utilizou uma ferramenta que ajuda a traçar o perfil exigido para o guarda-redes, defesa central, médio-ala, médio-centro e para o avançado.

Os princípios orientadores são relativamente consensuais. O jogo de mãos, a agilidade e a leitura de jogo são fundamentais para quem defende a baliza. A velocidade de execução, a antecipação e propensão ofensiva são determinantes para quem ataca. A componente técnica e táctica é, de longe, a mais valorizada pelos treinadores inquiridos, por 94,4 por cento. Os aspectos antropométricos, como a altura, o peso e a composição corporal ficaram no fim da lista.

Bárbara Lebreiro concluiu que o talento, por si só, não chega, "não garante performances desportivas de excelência". Para se tirar partido das capacidades naturais dos atletas é necessária proximidade e aconselhamento constantes: "Tem de haver um acompanhamento e um processo de aprendizagem que potenciem esse talento em estado bruto", afirma, acrescentando que "o desenvolvimento dos aspectos técnico-tácticos deve ser a base para o desenvolvimento do atleta".

Relevante também em todo o processo de selecção é a coordenação estreita entre o departamento de scouting e o departamento de formação do clube, para que, sustenta, "não se escolham atletas que não encaixem no perfil que os treinadores querem".

A ex-observadora do FC Porto sublinha, por outro lado, que o talento deve ser detectado cada vez mais cedo - até porque a concorrência também é cada vez mais apertada - e que a idade de ouro para se optimizar a aprendizagem se situa entre os seis e os 12 anos. "Para que seja possível ao clube trabalhar o jogador ainda nesta fase, moldando-o à imagem do atleta que procura e potenciando as capacidades que já lhe são inerentes."

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