Droga inverte sem precedentes efeitos da doença de Alzheimer em ratinhos

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Ressonãncia magnética de um doente com Alzheimer DR

O químico chama-se Bexarotene e já é usado há mais de dez anos no tratamento de certas formas de cancro humano, mas agora há indícios que esta droga pode revolucionar o tratamento da doença de Alzheimer. Para já, o que se sabe é que em ratinhos que têm a doença de Alzheimer este químico conseguiu restabelecer o comportamento e a aprendizagem dos roedores depois de, a nível cerebral, ter limpo de forma impressionante a proteína que causa a doença, mostra o artigo publicado nesta quinta-feira, na edição online da revista Science.

O que causa o Alzheimer é a acumulação no cérebro da proteína Beta amilóide, que numa situação normal é degradada continuamente. Um dos maiores riscos genéticos para o desenvolvimento desta doença está associado ao mau funcionamento da Apoliproteina E (Apo-E), uma proteína cujo desempenho acaba por provocar a degradação da Beta amilóide.

A equipa de cientistas liderada por Gary Landreth, do departamento de neurociências da Case Western Reserve University School of Medicine, Ohio, EUA, testou o efeito do Bexarotene em ratinhos. Este químico está autorizado para ser utilizado desde 2000 pela Food and Drug Administration, a entidade que valida a utilização de medicamentos nos EUA.

A equipa testou o Bexarotene e verificou que se liga a um receptor das células que provoca a produção da Apo-E. Nos ratinhos que tomaram a droga, em apenas seis horas, foi degradado um quarto da Beta amilóide que estava solúvel no cérebro. Mais, nos doentes de Alzheimer esta proteína acumula-se no cérebro em forma de placas, uma das características mais fortes desta patologia. Mas nos roedores tratados, mais de metade das placas foram degradadas em apenas 72 horas e ao final de algum tempo 75% das placas desapareceram. Estes efeitos nunca foram conseguidos em nenhuma outra droga utilizada para tratar doentes com Alzheimer.

Estas mudanças no cérebro tiveram efeitos nos ratinhos. Não só voltaram a fazer um ninho quando havia material para isso, um comportamento que se perde nos roedores com Alzheimer, como recuperaram parte da memória olfactiva.

“Isto é um estudo particularmente excitante e recompensador devido à nova ciência que descobrimos e à potencial promessa [de se tornar] uma terapia para doença de Alzheimer”, disse em comunicado Gary Landreth. “Precisamos de ser claros, a droga funciona bastante bem em ratinho. O nosso próximo objectivo é aferir se funciona de forma similar em humanos”, explicou.

A doença do Alzheimer é uma doença progressivamente incapacitante, os doentes perdem a memória e capacidades cognitivas até morrerem. Afecta maioritariamente os idosos, mas pode aparecer em pessoas mais novas. Só em Portugal estima-se que existam 90.000 afectados.

Gary Landreth disse ao PÚBLICO que a equipa está a iniciar as experiências para testar no laboratório os mecanismos celulares que estão por trás destes resultados. Dentro de pouco tempo, vão passar para os testes de segurança. “Se os resultados forem positivos, vai demorar vários anos até que os testes sejam feitos em doentes de Alzheimer.”

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