A Tobis vai ser vendida mas o negócio ainda não está fechado

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A hipótese de dissolução da Tobis já foi afastada Nuno Oliveira

À semelhança do que tem acontecido nos últimos meses, a situação na Tobis continua por se resolver. A assembleia-geral de accionistas terminou pouco depois das 11h30 sem nenhuma desfecho sobre o futuro da empresa, tendo esta sido suspensa até 24 de Fevereiro, dia da nova reunião. Para já há apenas uma certeza: a Tobis vai ser vendida, afastando-se assim o fantasma de que poderia fechar portas.

Na reunião desta sexta-feira, foi comunicado aos trabalhadores que a dissolução da empresa, uma possibilidade levantada em Dezembro, não vai acontecer, estando neste momento a ser negociada a venda da Tobis.

“A empresa não será liquidada porque o processo negocial avançou”, disse na reunião José Pedro Ribeiro, director do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), explicando que não pode para já avançar com datas de conclusão do processo. Mas garantiu que o negócio “está muito avançado”, recusando-se a revelar a identidade dos possíveis compradores.

Até à situação ficar resolvida, José Pedro Ribeiro fez saber que os ordenados dos trabalhadores estão garantidos, sendo para já assegurados pela Secretaria de Estado da Cultura (SEC), “apesar do esforço que isso representa”.

Os problemas financeiros da Tobis arrastam-se há anos, com resultados negativos, salários em atraso e sucessivos requerimentos em sede parlamentar, mas só em Julho de 2010 foram tornados públicos quando o ICA, entidade através da qual o Estado detém 96,48% do capital da empresa, fez saber na Assembleia da República que pretendia alienar a sua participação.

Desde aí, os rumores, promessas da tutela e assembleias-gerais de accionistas mais ou menos inconsequentes não têm parado. Em Março do ano passado, o ICA recebeu apenas uma proposta de compra das suas acções da Tobis. O seu autor, que oferecia sete milhões e um euro, era o maior accionista privado, o realizador António da Cunha Telles. A recusa da proposta de Cunha Telles foi justificada pelo facto de o produtor da Filmeform não pretender injectar capital na empresa que lhe permitisse cobrir um passivo que hoje deverá ascender a oito milhões de euros. A situação voltou, assim, à estaca zero.

Em Setembro, os 56 trabalhadores deste estúdio histórico do cinema português (já tem quase 80 anos) escreveram ao primeiro-ministro, pedindo uma solução para breve. No mês seguinte, a administração da Tobis, demissionária desde Agosto, anunciou a sua saída aos funcionários, que seriam recebidos pelo secretário de Estado da Cultura no fim de Outubro. Foi Francisco José Viegas que prometeu aos representantes dos trabalhadores que com ele se reuniram no Palácio da Ajuda que iria assumir o dossier para a venda da empresa e que queria ver a situação resolvida até ao Natal, se possível com a empresa a recomeçar “saneada, sem dívidas” e dentro da “actividade actual”. O que não aconteceu.

Em Outubro surgiram também notícias em jornais portugueses e angolanos de que a Tobis estaria muito perto de ser vendida a um grupo de empresários de Luanda, informação que a Cultura nunca confirmou, escudando-se num acordo de confidencialidade que assinara e que a obrigava ao sigilo até que as negociações estivessem concluídas.

Só em Dezembro, depois de terem visto assembleias-gerais de accionistas canceladas e de se terem concentrado frente à SEC e à residência oficial do primeiro-ministro, é que os trabalhadores da Tobis puderam contar com garantias de que seriam pagos os salários de Dezembro e o subsídio de Natal (o que aconteceu no início desta semana, segundo a Lusa). Na nova reunião com Viegas antes do fim do ano, foi-lhes comunicado que, caso o negócio não ficasse concluído até esta sexta-feira, a Tobis fecharia as portas e o destino do seu património seria decidido por uma comissão liquidatária.

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