Líderes sunitas dizem que o Iraque "está à beira do desastre"

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Allawi diz que o país se está a transformar numa "autocracia sectária" Jamal Saidi/Reuters

Dirigentes sunitas avisaram que o Iraque “está à beira do desastre” e acusaram o primeiro-ministro, o xiita Nuri al-Maliki, de tentar impor uma nova ditadura que poderá arrastar o país para uma guerra civil.

O aviso consta de um artigo de opinião publicado nesta quarta-feira no jornal “New York Times” e marca uma nova escalada na crise política que se desenrola no Iraque, coincidindo com a conclusão da retirada das tropas norte-americanas.

Nos quase nove anos de ocupação, os soldados americanos “acreditaram estar a lutar por uma democracia funcional”, mas o país “move-se agora na direcção oposta – em direcção a uma autocracia sectária que traz consigo a ameaça de uma guerra civil devastadora”, escreve Iyad Allawi, o líder do bloco sunita Iraqiya e um dos co-autores do texto.

A formação suspendeu a sua participação no Governo de unidade nacional, depois de, na semana passada, o poder judicial ter emitido um mandado de captura contra o vice-presidente Tareq al-Hashemi, um sunita que também pertence às fileiras do Iraqiya, acusando-o de ter organizado um esquadrão da morte para eliminar opositores políticos.

Hashemi rejeitou as acusações, tendo fugido para a região autónoma do Curdistão (onde Bagdad não tem influência sobre o poder judicial) e os seus aliados insistem que a acção faz parte de uma campanha de Maliki para eliminar os adversários e garantir o domínio xiita sobre as instituições do Estado. No artigo ontem publicado, Allawi – ele próprio um xiita, mas de orientação secular – diz que, desde as legislativas de 2010, se assiste no Iraque “à subordinação do Estado ao partido do primeiro-ministro, à erosão da independência judicial, à intimidação de opositores e ao desmantelamento das instituições independentes destinadas a promover eleições livres e combater a corrupção”.

Maliki recusa as alegações, insistindo que Hashemi deve responder pelas acusações, e já avisou que poderá substituir os ministros do Iraqiya que não regressem ao poder o quanto antes, o que deitaria por terra o acordo de partilha de poder firmado em 2010, após longos meses de negociações mediadas pelos EUA. Já depois disso, o bloco do líder radical xiita Moqtada al-Sadr veio defender a dissolução do Parlamento e a realização de eleições antecipadas, acusando os dirigentes sunitas de estarem a tentar o desmembramento do país – estão em causa os projectos de três províncias de maioria sunita para conseguirem autonomia em relação ao Governo central.

O Presidente iraquiano, o curdo Jalal Talabani, tem tentado mediar o conflito e garantir a sobrevivência do Governo tripartido, tendo proposto a realização de uma conferência que junte todas as comunidades e sensibilidades do país. Mas ontem, num comunicado diferente, Allawi fez saber que só participará mediante garantias do Governo da libertação de “todos os detidos presos por acusações falsas” e a criação de um painel para investigar supostas interferências políticas no poder judicial.

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