Manifestantes egípcios incendeiam biblioteca com rara colecção de manuscritos

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Depois do incêndio foram encontrados vários manuscritos espalhados pelo chão Foto: Reuters

O Egipto perdeu este fim-de-semana documentos e mapas históricos com mais de 200 anos num incêndio causado quando se registaram confrontos no Cairo entre as forças de segurança e os manifestantes anti-Exército. Entre os manuscritos perdidos estava a cópia original da “Description de L'Egypte”, uma colecção feita por encomenda de Napoleão durante a sua expedição ao Egipto, anunciaram no domingo as autoridades.

Segundo a CNN, o incêndio no edifício histórico do Instituto Científico Egípcio, que alberga a biblioteca que continha mais de 200 mil livros e documentos, na sua maioria científicos, terá sido causado por um cocktail molotov atirado pelos manifestantes. O incêndio, que esteve descontrolado algumas horas, deflagrou nos andares mais baixos do edifício, tendo depressa alastrado aos superiores.

De toda a colecção do museu, apenas foram retirados intactos do fogo cerca de 30 mil livros. Tudo o resto, desapareceu com as chamas, anunciou Zein Abdel-Hadi, responsável pelas bibliotecas e os arquivos egípcios.

“Perderam-se mapas e manuscritos históricos insubstituíveis que foram preservados durante muitas gerações”, disse em comunicado, citado pela CNN, o primeiro-ministro egípcio, Kamal Ganzouri, destacando a perda da “Description de L'Egypte” (“Descrição do Egipto”). “O Egipto perdeu um tesouro nacional raro na história”, disse.

A “Description de L'Egypte” é uma obra composta por 24 volumes e que conta com o trabalho de 160 investigadores que acompanharam Napoleão Bonaparte na sua expedição ao Egipto entre 1798 e 1801. Como o próprio nome indica, nestes livros agora perdidos estava reunida, através de documentos, mapas e artigos, toda a descrição do Egipto, desde a identificação dos monumentos à descrição da fauna e flora do país, passando pelos hábitos, agricultura e comércio dos seus habitantes. Características que tornaram a colecção única no país e numa das mais importantes e valiosas do século XIX.

O ministro egípcio da Cultura, Abdel Hamid, considerou o incêndio uma “catástrofe para a ciência” e fez saber que vai formar um comité de especialistas que fique responsável pelo restauro dos livros e manuscritos, “assim que as condições de segurança o permitam”.

O Instituto Científico Egípcio é considerado o instituto científico mais antigo do Egipto. Fundado por Napoleão em 1798 durante a invasão francesa no Cairo, o instituto foi criado com a missão de desenvolver e apoiar a investigação de qualidade em diferentes ramos, da biologia à matemática, até à arqueologia.

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