Câmara da Feira emprega ex-trabalhadores da Rohde e inaugura candidatura ao FEG

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Empresa foi uma das que beneficiaram do funo de globalização Adriano Miranda

Sete ex-operários da multinacional alemã de calçado, cuja falência foi decretada em Maio de 2009, foram recrutados para o departamento de Protecção Civil, numa iniciativa pioneira.

A Câmara de Santa Maria da Feira candidatou-se ao Fundo Europeu de Ajustamento à Globalização (FEG), o primeiro município a fazê-lo, para satisfazer necessidades objectivas e, ao mesmo tempo, dar oportunidade a ex-operários da empresa que laborava no seu território e que chegou a ser a maior empregadora do sector do calçado do país.

A multinacional alemã de calçado Rohde fechou definitivamente em Maio de 2009, depois de vários lay off e após a assembleia de credores ter chumbado o plano de viabilização que, numa primeira fase, previa a continuidade da produção com 150 dos 984 trabalhadores. Mais de dois anos depois, o FEG entra em acção para apoiar os trabalhadores despedidos de diversas formas, nomeadamente na reintegração profissional e na criação do próprio negócio.

Pela quarta vez, Portugal candidatou-se ao FEG que desbloqueou uma verba de 2,2 milhões de euros para ajudar os ex-trabalhadores da Rohde. Quase metade dessa verba será aplicada em acções de formação profissional e de validação de competências, uma vez que mais de 78 por cento dos desempregados da multinacional não concluiu o ensino básico.

A autarquia feirense não quis perder a oportunidade. "O município teve conhecimento de que tinha sido disponibilizado esse instrumento, candidatou-se junto da entidade que superintende esta matéria em Portugal, o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), no sentido de dar uma oportunidade a alguns ex-trabalhadores da Rohde de colaborarem com o município, dando resposta a necessidades objectivas", adianta o vereador da Administração e Finanças, Celestino Portela.

Sete ex-trabalhadores da Rohde, seis mulheres e um homem, com idades entre os 31 e os 55 anos, foram admitidos no departamento da Protecção Civil. Dois são agora administrativos e cinco operacionais. O acordo assinado entre as partes estabelece o prazo máximo de um ano. "A câmara não tem custos com os trabalhadores integrados nesse serviço", refere o vereador. De qualquer forma, os operários recrutados têm acompanhamento. "Entendemos que não deviam trabalhar sozinhos para facultar a reintegração, para não se sentirem isolados."

Susana Viana trabalhou na Rohde 12 anos no meio das gáspeas, numa linha de produção. Logo que a empresa de calçado fechou as portas, decidiu apostar na sua formação. Frequentou um curso de técnicas administrativas e obteve equivalência ao 12.º ano. Curso terminado, recebeu uma carta do IEFP, assistiu a uma sessão de esclarecimento no centro de emprego de São João da Madeira, foi a uma entrevista na Câmara da Feira e ficou na parte administrativa no departamento de Protecção Civil. "Não é um contrato de trabalho, é um projecto com cláusulas bem definidas". Susana Viana está satisfeita. "Andava intensamente à procura de emprego desde 8 de Setembro quer em sites de emprego, quer pessoalmente, e estava muito difícil. Vou aproveitar ao máximo esta oportunidade. Além de estar ocupada vou ganhar experiência". A incerteza da Rohde foi complicada. "Andámos muitos anos em lay off, sempre com a confusão de fecha ou não fecha, fecha um pavilhão, depois a empresa de Pinhel, depois as lojas. Psicologicamente foi um processo muito complicado", recorda. Sérgio Silva também foi recrutado pela câmara feirense para o departamento de Protecção Civil. Da linha de montagem, na parte de serralharia da Rohde ao longo de 16 anos, é agora operacional. Anda no terreno, a limpar corta-fogos dos matos, a dar apoio na desobstrução de estradas quando há acidentes. A Rohde fechou e Sérgio Silva esteve três meses sem trabalhar até se inscrever num curso de assistente administrativo de ano e meio que lhe deu equivalência ao 9.º ano. "Esta oportunidade é excelente, estava em casa sem receber nada."

Neste momento, mais de 300 dos quase mil operários que trabalharam na Rohde já estão a trabalhar noutras unidades fabris. É o caso de Ana Clara Magalhães, que trabalhou 23 anos na Rohde e em Outubro foi admitida, por tempo indeterminado, pela multinacional dinamarquesa de calçado Ecco"Let, também em Santa Maria da Feira. Enviou o currículo e acabou por ser chamada para o mesmo trabalho na linha do corte do calçado, depois de ano e meio no desemprego. Já Maria Adelaide não esperou muito. Três meses depois da Rohde fechar arranjou trabalho numa fábrica de calçado e no início do ano mudou-se para a Ecco. Quanto ao FEG, ambas dizem ter muitas dúvidas sobre o funcionamento. Para já, têm a seu favor o facto de estarem empregadas.

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