“O álcool é definitivamente um problema” entre os jovens dos 13 aos 18 anos

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Os jovens bebem cada vez mais bebidas mais fortes Sara Matos

Há menos jovens a experimentar cannabis, principalmente entre os mais novos, mas aumentou a percentagem de consumidores recentes, embora tenha diminuído a de consumidores habituais.Também há menos jovens a consumir bebidas alcoólicas – embora os que já o fizeram representem 37,3 por cento dos que têm 13 anos e 91 por cento dos com 18 anos -, mas o que o fazem bebem cada vez mais, optam por bebidas mais fortes e estão mais vezes embriagados.

Estes são alguns dados do último Estudo sobre Consumo de Álcool, Tabaco e Drogas (ECATD), que foi apresentado hoje de manhã em Lisboa. O ECATAD tem sido realizado em Portugal de quatro em quatro anos, desde 2003. Os dados hoje apresentados pelo Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT) dizem respeito a Maio de 2011. Este estudo é realizado com base num inquérito aos alunos do ensino público do 7.º ao 12.º ano. Em Maio passado foram inquiridos 13 mil alunos, cerca de dois mil por cada grupo etário dos 13 aos 18 anos.

Em Maio passado, 23 por cento dos alunos com 18 anos disseram ter-se embriagado nos últimos 30 dias. Nos rapazes a percentagem é de 28 por cento; nas raparigas de 19 por cento. Aos 13 anos, a percentagem foi de 2,1 por cento. A prevalência de consumo nos últimos 30 dias permite identificar aqueles que são consumidores actuais.

Cerca de 40 por cento destes alunos mais novos afirmam já ter experimentado bebidas alcoólicas, uma percentagem que aos 18 anos sobe para 91 por cento. Em 2003 eram respectivamente 47,2 e 93,5 por cento. Existe um decréscimo entre os que já experimentaram e também, nos mais novos, entre aqueles que podem ser considerados consumidores habituais de bebidas alcoólicas. Em 2003, 30 por cento dos alunos de 13 anos afirmaram ter consumido bebidas alcoólicas nos últimos 30 dias. Este ano foram 13 por cento. Já nos 18 anos, o único grupo onde aumenta, os que beberam nos últimos 30 dias antes do inquérito passaram de 68,7 para 70,2 por cento.

O problema, frisou Fernanda Feijão, coordenadora do estudo, é que o decréscimo do número de consumidores está a ser acompanhado por “uma clara dramatização nos padrões de consumo”. Os que consomem, consomem mais quantidade; a percentagem de consumidores de bebidas destiladas passou de 70 para 82 por cento entre os alunos de 18 anos e aumentou também nos de 16 e 17 anos; e consequentemente a frequência com que ficam embriagados também tem aumentado.

Quinze por cento dos alunos do sexo masculino de 18 anos dizem que tal aconteceu, no último ano, entre seis a 19 vezes. Entre as raparigas a percentagem baixa para nove por cento.

Mudar a lei

“O álcool é definitivamente um problema, ainda para mais tendo em conta que são tão jovens e que os seus corpos ainda não estão formados”, adverte Fernanda Feijão. “Os mais novos não estão preparados biologicamente para isto. Cada vez mais cedo estão a aparecer dependências alcoólicas, cirroses”, corrobora Manuel Cardoso, vice-presidente do IDT. Devido a esta situação estão já a ser estudadas alterações à legislação, acrescentou. Principais alvos: possibilitar que a fiscalização, no que respeita ao cumprimento da idade mínima legal de consumo, seja mais eficaz (actualmente a entidade fiscalizadora só pode actuar em caso de flagrante delito); agir nas campanhas de publicidade ligadas as festivais de música; e comprometer mais os pais. “Não faz qualquer sentido que um miúdo de 13 anos seja apanhado na rua pela polícia completamente intoxicado e os pais não cheguem a saber que isto aconteceu. No mínimo é indispensável que sejam chamados ao local”, frisou.

O aumento do consumo de álcool, bem como das drogas estimulantes está associado a “uma cultura de diversão” hoje predominante, explica Fernanda Feijão. São favorecidos os ingredientes que funcionam como um “facilitador social”. Em relação às drogas ilícitas, registam-se “aumentos significativos” na percentagem dos que já experimentaram anfetaminas. Esta subida é mais significativa entre os alunos mais novos. Em 2003, 1,5 por cento dos alunos de 13 anos afirmaram que já tinham experimentado este tipo de drogas. Este ano são 3,5 por cento. Nos 14 e 15 anos regista-se também uma subida de dois pontos percentuais.

A percentagem dos que já experimentaram cocaína e cogumelos mágicos também sobe nos grupos dos 13 aos 16 anos. E sobe em todos os grupos a percentagem dos que consumiram LSD. Os maiores saltos registam-se entre os alunos de 15 e anos 16 anos: em sete anos passou, respectivamente, de 1,3 para 2,9 por cento e de 1,9 para 3,2 por cento.

A heroína está em queda em todos os grupos à excepção de dois. Mais uma vez o aumento foi nos grupos dos 15 e 16 anos. No primeiro os que afirmaram já ter experimentado passaram de 1,7 para 2,9 por cento. No segundo de 1,4 para 2,4 por cento. A percentagem dos que já injectaram cai em todos os grupos à excepção dos de 15 e este é um dado cuja veracidade, segundo frisa Fernanda Feijão, terá de ser melhor avaliada: 1,5 por cento dos alunos desta idade diz que já o fizeram pelo menos uma vez.

Em queda está também o consumo de ecstasy. As percentagens de jovens que afirmaram ter experimentado são, em regra, menores, por vezes substancialmente, do que os que dizem já ter consumido anfetaminas. Segundo Fernanda Feijão, esta alteração poderá ter na base “uma questão de moda e de mercado”.

Apesar da percentagem dos consumidores habituais ter diminuído (não se passou no grupo de 16 anos), a cannabis continua a ser a droga ilícita mais consumida entre os jovens. A percentagem dos que afirmam já ter experimentado oscila entre os 2 (13 anos) e os 28 por cento (18 anos). Em 2003 oscilava entre os 5 e os 30 por cento. A de consumidores habituais varia agora entre 0,8 e 16 por cento. Entre os alunos de 16 anos, 10 por cento tinham consumido cannabis nos 30 dias antes do inquérito.Em 2003 eram oito por cento.

Nos inquéritos de 2003 e 2007 a amostra foi, respectivamente, de 16.500 e de 15.000 alunos. “Há muitos estudos, as escolas estão saturadas, não houve tanta participação como antes”, justificou Fernanda Feijão, a investigadora responsável pelo inquérito.

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