Maior parte das demências nos idosos está por diagnosticar

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As doenças associadas ao envelhecimento vão ser debatidas no Porto Nuno Ferreira Santos/Arquivo

É um cenário assustador: a população portuguesa está a envelhecer a um ritmo acelerado e, se as previsões se concretizarem, dentro de meio século, perto de um terço (32%) terá mais de 65 anos. Actualmente, Portugal já conta com 1,5 milhões de idosos e cerca de 400 mil vivem completamente sozinhos. Com o envelhecimento, aumentam as patologias, nomeadamente as demências, e a maior parte dos idosos nesta situação está actualmente por diagnosticar e sem tratamento, afirma Lia Fernandes, presidente da Associação Portuguesa de Gerontopsiquiatria (APG).

As doenças associadas ao envelhecimento vão estar em destaque no 11.º congresso da APG, que decorre de hoje até sexta-feira no Porto.

Dos 153 mil portugueses com demências, cerca de 90 mil sofrem de Alzheimer. "Quando chegam ao médico, muitos chegam já em fases intermédias das doenças", nota Lia Fernandes, para quem é importante estabelecer um diagnóstico precoce para definir intervenções terapêuticas que ajudem a melhorar a qualidade de vida dos doentes e dos seus cuidadores.

Portugal tem, desde há alguns anos, uma rede de cuidados continuados integrados que deveria dar resposta a estes casos, mas, além de o número de camas ser ainda "insuficiente", a outra rede que chegou a ser oficialmente criada - a de saúde mental - não foi regulamentada, lamenta a psiquiatra, que trabalha no Hospital de S. João, no Porto. Para onde podem ir então estes doentes? "Boa pergunta. Por vezes, põem-nos entraves [para aceitar estas pessoas na rede de cuidados continuados] porque elas têm alterações comportamentais", explica. Daí a importância de avançar com uma rede específica para a saúde mental.

Mas, para a presidente da APG, este não é, nem de longe nem de perto, o único tipo de resposta necessário. "A institucionalização deve ser o último recurso. Se não se quiser gastar muito dinheiro, é necessário apostar na assistência domiciliária, com equipas multidisciplinares", defende Lia Fernandes, que considera que, com a crise, se está a "voltar atrás". "É necessário também investir na formação específica dos profissionais de saúde", acrescenta.

Um quarto dos suicídios

O aumento do suicídio entre os idosos é outro dos temas a debater no congresso. Um quarto das pessoas que se suicidaram no ano passado em Portugal tinha mais de 60 anos e na base da decisão estiveram, sobretudo, além de doenças físicas, a solidão e as condições socioeconómicas, descreveu à agência Lusa a psiquiatra.


"Os idosos não precisam de estar muito deprimidos para se suicidar. Basicamente, o que é importante nos idosos são as doenças físicas, as condições socioeconómicas e de bem-estar geral e uma outra coisa muito importante, que tem a ver com a inexistência de uma rede social de contactos, nomeadamente o factor solidão."

De acordo com os dados oficiais, em Portugal cerca de 1500 pessoas suicidam-se em cada ano. Destas, um quarto tem mais de 60 anos. Em zonas com fraca densidade populacional e onde grande parte dos residentes está desempregada, como acontece em alguns concelhos do Alentejo, a taxa de suicídio atinge valores preocupantes.

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