Como um projecto falhado levou a BeGen!us a criar uma loja automatizada para os CTT

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Estrangeiro é uma das aposta da equipa da BeGen!us Miguel Manso

Integrada no grupo SetCom, a pequena empresa de engenharia com 15 trabalhadores desenvolveu cinco máquinas para a nova estação de correios, aberta 24 horas por dia.

Horácio Costa, administrador da SetCom, anteviu problemas. Em cima da mesa estava a criação de raiz de uma máquina de venda de bilhetes que pudesse ser instalada dentro de um dos autocarros da Sociedade de Transportes Colectivos do Porto (STCP). A BeGen!us, empresa do grupo, tinha concorrido e ganho o concurso internacional lançado pela companhia pública.

"Sempre soubemos que era inadequado para funcionar num autocarro e para as ruas de calçada do Porto. A máquina de venda de títulos de transporte teria de aceitar moedas e dar troco e era preciso garantir que, quando o troco saísse, as moedas não saltassem com a trepidação do veículo", conta. Em 2008, no ano em que foi criada, a BeGen!us tinha um desafio pela frente. Alertou a STCP, mas a empresa de transportes insistiu.

"Sugerimos avançar com um projecto-piloto com duração de um ano. Colocámos o equipamento [com 100 quilos] em 12 autocarros que passavam pelo pior piso possível durante o seu percurso e fomos ajustando a máquina até conseguirmos desenvolver a solução mais adequada", continua. A venda embarcada de títulos é usada em comboios, sobretudo na Dinamarca ou Suécia, "mas não é uma opção comum", afirma Horácio Costa.

Ao fim de um ano, a BeGen!us dominava todos os detalhes técnicos relacionados com o sistema de bilhética: da forma de pagamento ao amortecimento, necessário nomeadamente para que o dinheiro não danificasse a máquina. O projecto não saiu do papel, mas a experiência acumulada trouxe retorno. "Foi o pontapé de saída para podermos avançar para outros projectos", diz.

Depois do "desaire" no Porto, a empresa instalada na Quinta do Anjo, em Palmela, não mais parou de trabalhar. E, recentemente, voltou a pôr em prática o que aprendeu com o seu primeiro cliente, ao conceber a loja postal da estação dos CTT no Parque das Nações, em Lisboa, onde os serviços são totalmente automatizados. Neste projecto, também está a tecnológica Ydreams, que ganhou o concurso internacional para criar soluções interactivas que estimulam o cliente a comprar produtos.

Em quatro meses, a BeGen!us desenvolveu cinco máquinas que hoje estão na estação de correios: um bloco de apartados, um equipamento de pagamento de serviços, duas máquinas de vendas de produtos postais e, finalmente, outra de pagamento que dispensa um operador de caixa, semelhante às que hoje já estão em alguns hipermercados (self check-out). "Alguma da tecnologia usada é a mesma que usámos para a SCTP. São soluções de engenharia", diz Horário Costa.

O equipamento da estação pode ser redimensionado e adaptado e a expectativa é, agora, oferecer novas soluções semelhantes noutros espaços e apostar no mercado europeu. Para já, a empresa está a desenvolver uma solução para a "tarifação das embalagens". Na prática, é um sistema de infra-vermelhos que fará uma relação entre o peso e o volume para, depois, definir o preço.

No ano passado, a empresa do grupo SetCom facturou um milhão de euros, mas pode vir a duplicar o montante caso se concretize um projecto no Brasil. Uma empresa mostrou-se interessada na máquina criada para a SCTP, mas de quantia exacta. "A acontecer, será um pulo, mas ainda estamos numa fase incipiente", diz Horário Costa. Para já, foi celebrado um contrato de distribuição exclusiva para o Brasil e América latina.

Também em parceria com a Ydreams, a BeGen!us desenvolveu o hardware do projecto Sensorium, encomendado pela gigante mundial da cosmética L"Oreal. Trata-se de uma máquina instalada numa loja de perfumes que ajuda o cliente a decidir que produto levar. De acordo com as respostas dadas a questões curtas, o programa traça um perfil e sugere três perfumes, colocados em prateleiras próximas do ecrã. A empresa de Palmela fez cerca de dez máquinas e já tem encomenda para mais 15, que serão instaladas em países como Israel ou Áustria.

No portefólio da BeGen!us também está uma unidade controladora que gere o funcionamento de sistemas fotovoltaicos: entre outras funcionalidades, garante que a energia produzia nos painéis (ou a partir de um aerogerador) seja armazenada em baterias.

"O que fazemos é engenharia. Vamos ao mercado procurar tecnologia existente e oferecemos ao cliente o que pretende", resume Horácio Costa. E nada é desperdiçado: todo o conhecimento adquirido é para aplicar em projectos e clientes futuros. "É uma forma de nos mantermos competitivos".

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