Europa reconhece possibilidade de cenário de default na Grécia

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Atenas assistiu ontem ao segundo dia de greve dos transportes John Kolesidis/Reuters

Com o cenário de um incumprimento em larga escala da Grécia face aos seus credores a ganhar terreno no debate sobre a crise e os líderes das outras grandes potências mundiais a apelarem à adopção urgente de medidas, a Europa viu-se ontem forçada a dar sinais de que alguma coisa será feita nas próximas semanas para reconquistar o controlo da situação.

O dia começou com as notícias publicadas por dois jornais gregos que davam conta de uma conversa entre o ministro grego das Finanças e membros do partido do Governo. Evangelos Venizelos terá dito que um default ordenado do Estado grego com uma perda de 50% para os detentores de dívida pública grega era um dos cenários possíveis para a resolução da crise grega. O Governo grego, logo de seguida, fez uma declaração à imprensa em que, não desmentindo a informação, afirma que esta é apenas mais uma distracção indesejável da tarefa central de fazer a Grécia cumprir o plano de ajustamento assinado com a troika.

O pior é que, quase ao mesmo tempo, o governador do banco central holandês, Klaas Knot, afirmava que o cenário de um default grego já não poderia ser colocado de parte, tornando-se no primeiro responsável do BCE a fazer uma afirmação pública desse tipo. "Todos os esforços são destinados a evitar isso, mas estou agora menos certo na exclusão de uma falência do que estava há alguns meses atrás", afirmou em entrevista a um jornal holandês.

Perante este cenário, o nervosismo nos mercados aumentou e transferiu-se para os responsáveis políticas das potências fora da zona euro, que endureceram o seus apelos à acção no Velho Continente.

"Espero que a Europa não espere que os primeiros países quebrem para começar a colocar novos instrumentos em prática, porque aí a factura a pagar será muito mais elevada", afirmou, em Washington à chegada ao encontro do FMI e do Banco Mundial, Guido Mantega, o ministro brasileiro das Finanças.

George Osborne, o ministro britânico, deu também conta da urgência da situação. "Têm seis semanas para resolver a crise", afirmou ontem, lembrando a data do próximo encontro do G20 agendado para Novembro em França. O comunicado do G20, após uma reunião ontem dos seus ministros das Finanças, garantia que as grandes potências mundiais iriam fazer tudo para "maximizar" o impacto das medidas a tomar pelos países da zona euro no combate à crise.

Pressão e mais pressão

Perante esta pressão, sentiu-se ontem na Europa a necessidade de apresentar algum tipo de soluções. E foi do lado do Banco Central Europeu que vieram as notícias que acabaram por acalmar os mercados, cada vez mais preocupados com a situação de fragilidade da zona euro e, em especial, dos seus bancos. Três responsáveis do banco central deram indicações claras de que o autoridade monetária se prepara para fazer regressar os empréstimos ilimitados de um ano aos bancos da zona euro, uma ajuda preciosa para um sector com graves problemas em garantir financiamento.

"Um dos instrumentos que nós tínhamos, no contexto da política de entrega total de liquidez, eram os leilões a um ano. Acho que pode ser aconselhável pensar em reintroduzir esta possibilidade. Podemos discutir uma reintrodução", disse ontem Ewald Nowotny, governador do banco central austríaco.

O presidente do Bundesbank, Jens Weidmann, também não excluiu essa hipótese, lembrando que no passado o BCE sempre afirmou que está disposto a garantir a liquidez dos bancos.

Esta decisão, numa altura em que se fala mais na intenção dos governos da zona euro e do FMI de capitalizar os seus sectores bancários, pode revelar-se fundamental para tornar a posição das instituições financeiras europeias mais confortável. É que, no imediato, o grande problema que os bancos enfrentam é o da dificuldade em obter fundos nos mercados. A banca portuguesa é uma das mais afectadas neste capítulo, estando já há largos meses dependente do BCE para obter o financiamento de que necessita. O regresso dos leilões a um ano (actualmente o prazo máximo admitido pelo BCE é o de três meses) daria aos bancos a possibilidade de gerir de forma mais confortável as suas necessidades de financiamento, num cenário de crise.

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