Dão banho, mudam fraldas e isso desce a testosterona – chamam-se pais

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Estar com os filhos altera a fisiologia e o comportamento dos pais Paulo Pimenta (arquivo)

Há um denominador comum na fisiologia dos homens que se tornam pais – a concentração de testosterona no sangue desce bastante. Isso não retira masculinidade, força ou libido, mas pode ter o efeito subtil de os tornar mais focados nos filhos, revela um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

A testosterona é a hormona masculina por excelência. Desenvolve as características masculinas durante a puberdade, mas também está associada à força, competição, agressividade ou empenho em ter relações sexuais. Vários estudos indicam que os níveis de testosterona descem quando os homens estão numa relação de longa duração ou mostram que os homens com filhos têm menos desta hormona do que os que não têm.

Mas os investigadores da Universidade Northwestern, em Chicago, foram mais longe, compararam a concentração de testosterona num grupo de homens filipinos antes e depois de terem filhos. O grupo de 624 homens fazia parte de um estudo longitudinal desde 1983. Em 2005, quando analisaram pela primeira vez os indivíduos que tinham em média 21,5 anos, alguns já eram pais, embora a maioria não o fosse. Mas quando voltaram a avaliar os níveis da hormona, 4,5 anos depois, viram mudanças.

Embora houvesse uma diminuição da hormona em todos eles – o nível de testosterona diminui ao longo da vida –, foram os homens que entretanto se casaram e que tiveram filhos aqueles em que a testosterona mais desceu. A descoberta sugere que “a interacção com crianças dependentes suprime a testosterona”, dizem os autores no artigo publicado na segunda-feira na revista norte-americana.

A descida dos níveis de testosterona pode ser uma vantagem, quando é mais importante estar atento aos sinais do bebé do que aos sinais de potenciais parceiras sexuais.

“Criar filhos é um esforço tal que tem de ser cooperativo por necessidade.O nosso estudo mostra que os homens estão biologicamente conectados para ajudar no trabalho”, disse, citado pela AFP, Christopher Kuzawa, co-autor do estudo.

“A mensagem mais importante deste estudo é que o cuidado parental do homem é importante”, disse por sua vez Peter Ellison, professor de evolução biológica em Harvard, que não está envolvido no estudo. “É tão importante que moldou a fisiologia do homem”, explicou ao New York Times.

Mais hormona, mais hipótese de ter filhos

Mas são os homens solteiros com mais testosterona que maiores probabilidades têm de se tornarem pais, concluíram os cientistas. “Isto mostra uma troca a nível hormonal e comportamental entre procriar e o ser pai, um necessita de um nível alto de hormona e outro de um baixo”, disse por sua vez à BBC News Ashley Grossman, porta-voz da Sociedade Inglesa de Endocrinologia. E contraria a hipótese de que eram os homens com menos hormona que tinham mais probabilidades de ter filhos – uma ideia que surgiu quando se comparou o nível de testosterona entre pais e não pais.

A equipa verificou ainda que os homens que passavam mais horas do dia a cuidar dos filhos tinham a maior descida no nível das hormonas entre todos os pais. O que mostra que o efeito é aumentado devido a um contacto mais intenso. “Quando os pais fazem esta escolha, esta decisão activa de estarem envolvidos, a testosterona reage a isso descendo ainda mais”, disse à Scientific American Lee Getler, co-autor do estudo. “O organismo responde dizendo: ‘É nisto que estamos focados agora, estamos focados nos miúdos.’”

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