George Soros considera que a Europa está em perigo

Foto
Numa entrevista a Le Monde, defende o aumento dos impostos sobre os mais ricos Jorge Silva/ Reuters (arquivo)

O financeiro húngaro-americano George Soros pensa que só agora as autoridades europeias começam a levar a sério a crise do euro, a qual na sua opinião pôs a Europa em perigo.

“Sim, a Europa está em perigo”, respondeu, peremptório, numa entrevista publicada hoje no diário francês Le Monde. “A situação é grave e as autoridades apenas estão a começar a levar a coisa a sério. Até ao momento, limitavam-se a responder às pressões do mercado”, diz este especialista em moeda, que aos 81 anos se tem multiplicado em declarações públicas sobre a crise da dívida de alguns países da zona euro, que tem sido também a crise da moeda única europeia.

Mas agora começam a “discutir soluções de longo prazo”, num contexto em que “não há outra escolha a não ser melhorar a governação na zona euro”, pois o euro existe e, “se se desmorona, isso traduzir-se-ia por uma crise bancária totalmente fora de controlo. O mundo mergulharia numa recessão profunda”, diz Soros, em declarações recolhidas no dia em que foram conhecidas as propostas de Merkel e Sarkozy sobre novas modalidades de governação económico-financeira na zona euro, e em que a perspectiva de criação de euro-obrigações deixou de ser liminarmente recusada pela chanceler alemã.

Na entrevista a este diário de referência francês, voltou a defender a criação de obrigações europeias (um mecanismo em que o endividamento dos vários países nos mercados seria feito em comum, o que se traduziria em juros mais baixos, para as economias mais fragilizadas, do que acontece no modelo actual), tal como já fizera no fim-de-semana, numa entrevista então publicada na revista alemã Der Spiegel, e tal como tem vindo a dizer várias vezes.

Soros ficou famoso mundialmente por em 1992 ter especulado contra a libra britânica e a ter feito sair do Sistema Monetário Europeu (o sistema de bandas de flutuação cambial entre moedas da UE que precedeu o euro), e agora não tem dúvidas de que, “tal como a zona euro está construída”, os mercados podem ganhar contra a moeda única, por ausência de autoridade orçamental e fiscal única.

Coerente com a defesa que já tinha feito da saída de Portugal e da Grécia do euro, por falta de margem das respectivas economias nacionais para lidarem com a actual crise da dívida, Soros explica também que “o euro pode sobreviver à saída de países como a Grécia ou Portugal”, devido à sua reduzida dimensão, “mas a União rebentaria se isso acontecesse com a Itália ou a Espanha”.

Warren Buffett, o multimilionário norte-americano que pediu no fim-de-semana o aumento dos impostos sobre os “super-ricos” nos EUA, tem razão? – pergunta Le Monde. “Claro que sim. Warren Buffett é um investidor talentoso e malicioso. Ele pensa a longo prazo e sabe defender os interesses dos super-ricos. Tem consciência de que, se os ricos não fizerem nada agora, terão antagonismo do público nos próximos anos”.

Sugerir correcção
Comentar