Assad ataca sunitas de Latakia para esmagar revolta em cidade que é feudo da sua família

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Latakia tem sido alvo de ataques das forças sírias Reuters

A ONU perdeu o rasto aos dez mil palestinianos de um campo de refugiados em Latakia atacado pela forças sírias que estão a bombardear os bairros pobres sunitas da cidade. Milhares de pessoas foram levadas para um estádio e não sabe mais nada delas.

Latakia continua a ser bombardeada por tanques e carros de assalto, que reduzem a escombros os edifícios. Está a ser especialmente visada a zona de Ramleh, onde vivem sunitas pobres e fica um campo no qual vivem 10 mil refugiados palestinianos. A ONU não sabe o que aconteceu a estas pessoas.

Milhares de habitantes foram levados para dentro do estádio e foram-lhes tirados os cartões de identificação e os telemóveis.

Esta cidade portuária é especial: tem uma grande população alauíta, uma minoria islâmica à qual pertence a própria família do Presidente Bashar al-Assad. Na verdade, diz a Reuters, esta cidade é a capital de facto desta seita religiosa do islão xiita que domina há 41 anos a política, a economia e as forças segurança de um país de 23 milhões de habitantes em que 75 por cento são muçulmanos sunitas.

“A Síria é uma coisa e Latakia é outra. Latakia é um país diferente”, disse à Reuters Ahmad Abdullah, um activista que visitou a cidade recentemente.

Surgirem aqui protestos contra o regime neste feudo da família Assad e dos alauítas foi encarado como especialmente grave pelo regime. Daí a ofensiva feroz contra Latakia, iniciada no domingo e que só nesta terça-feira terá feito pelo menos 34 mortos.

Quem saiu às ruas a reclamar mudanças foram sunitas e palestinianos das zonas mais pobres, e também alguns alauítas, disse um outro activista da oposição à Reuters, embora a coberto do anonimato.

Agora o ataque parece ter um padrão claro: “O regime está a atacar os bairros sunitas, como Slaibeh, Raml al-Jounoubi, Sakentouri e Bustan al-Samkeh. Armou os habitantes dos subúrbios alauítas perto de Qanin”, disse à AFP Tariq, um habitante de Latakia. No bairro de Al-Chaab, “as casas velhas ruíram”, contou outra fonte à agência francesa.

O Departamento de Estado norte-americano diz não ter provas de que o fogo de artilharia sob o qual a cidade esteve no domingo fosse proveniente de navios de guerra, diz o Los Angeles Times. Há, no entanto, relatos que falam de disparos vindos de barcos de borracha.

Quanto ao campo de refugiados palestinianos, localizado numa zona com construções do tipo bairro de lata, na zona que está a ser atacada, terá ficado deserto ou pouco menos — as autoridades sírias negam acesso às instalações à agência das Nações Unidas responsável pelo apoio aos refugiados da Palestina. “Uma população esquecida tornou-se também uma população desaparecida, disse Christopher Gunness, porta-voz da organização, ao New York Times. Yasser Abed Rabbo, secretário geral da Organização de Libertação da Palestina, considerou o ataque ao campo “um crime contra a humanidade”.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas reúne-se de novo na quinta-feira, para discutir sanções a impor à Síria.

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